quinta-feira, 27 de setembro de 2007

segundo dia da criação.


As linhas da minha mão constrói nosso futuro, segure-a firme. Vê as estrelas? Elas aí, são tão solitárias quanto aqui? Brilham na sua inocência tão virgem! E nada mais é assim nesse mundo, além de ti. O caminho do meu corpo, que percorre o teu com toda o desejo que têm as mulheres em seu derramar vermelho. eu construo um palácio onde caberá todo o mundo para que fiquemos com o restinho que sobrar da flora e relva, para nós. então, ganhamos a confiança ao perdê-la para as imagens ocultas de um feio que veste-se de beleza para atrair olhares falsos pela rua descalça.


no meio dos olhos carrego uma chegada de sonho. aguardo pelo momento em que tocarás meu tempo com os teus ponteiros. pararemos e o mundo, também. contemplarão a visão da Poesia juntando-se em dois corpos distintos, porém, de mesma Alma. cantem, vós, os Anjos! desçam até aqui, vós, os Deuses! Maravilhem-se com a imagem plena de um entregar-se completo. ó, eu que levava a falta de esperança entrelaçada nos dedos! ouço a música vermelha que vem do céu e colore a íris de todos que ousem observá-la. sobem os brilhantes e descem as nuvens. Venha, meu amor, venha voar comigo por entre os astros. faremos uma trilha de suspiros e eles seguirão nossos passos. desejando ser o ar que respiramos, com os lábios tão grudados! deliciando-se na imagem perfeita de dois corpos alvos de Amor manchados a acariciarem-se no colo das estrelas.



Ouçam!

e com um suspiro dela, criou-se o Universo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

a falta e a repetição.


"Quando falta-se a si mesmo, tudo falta" _Goethe_



falta em mim a cor da tua paixão
falta em mim o teu sotaque
falta em mim a minha poesia
falta em mim a criatividade
falta em mim a vida sentida
estou agora, tão sem vontade
que querer me falta
pra colorir o filme
estou agora tão vazia
que cabe a mim
ser repetitiva
vou costurando
os retalhos das horas
no final, imaginem:
já costurei um dia!




é assim que ando.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

texto para dizer adeus.


you're leaving so soon?
Never had a chance to bloom
But you were so quick to change your tune
Don't look back if i'm a weight around your neck
Because if you don't need me, i don't need you.



porque ousas golpear-me a estabildade? mas não sabes o quanto eu já estou acima, meu bem. hoje tenho um amor entre os dentes e uma ferida lambida nas asas. sou livre porque sou dela e não mais coloque teu focinho sujo no meu joelho costurado. pare de quebrar meus cacos já colados, não tente impregnar meu quarto com o cheiro que exalava de tuas fotos. não tem mais nada, nem pedaço delas. não olhe pra trás, meu bem, eu sou o futuro que não te beija a ponta dos dedos com os lábios rosados de vontade e Amor. Não tens poesia, querida. E eu a tenho como água, como vento, como simples olhar. eu tenho poesia -porque tenho e me oferecem- até debaixo das unhas. Nado num oceano eloqüente e daria tudo para estar nos braços de Patrícia. Sentirás tu o que sinto hoje? Não, não terás esse prazer. Porque tudo que tens é a simplicidade de uns óculos grande. Tens também, é claro, a mentira como teu guarda costas. Recorres à ele sempre que algo quer queimar-te os cabelos. Não me olhe, não ouses olhar-me. Meu corpo e Alma são demais para um olhar tão simplório e carente. vá, vá embora de vez. eu não me importo mais. "tenho medo dele, tenho medo dela, os dois juntos onde eu não podia entrar" sabe isso? não faz mais sentido. Oh, estátua de sal, eu tenho um oceano todo para dissolver-te. E já o fiz.



adeus.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Ela, o meu poema preferido.


Caindo por entre as nuvens de um hoje mal vivido. O vazio tomando conta de cada pedaço de pele que se estende por meus ossos. São tantos. Os pés resfriando-se, pálidos, na lajota colorida de tempo e sujeira. No peito, ardendo o nada completo de sonhos tão escurecidos que só pode-se ver os dentes de um adeus sofrido. Comprimo meus dedos da mão. Um leve sussurrar dos ventos. Preciso ir. Eu quero te levar por entre campos verdes e perfumados, numa tarde aconchegante e iluminada. Então, você não vai tentar vir? Quero levar-te pela mão. Dar-me-ás o prazer de sentir vibrar em minhas cordas vocais, o teu nome? De sentir nas pontas de meus dedos a delicadeza da tua poesia? Sentes o meu hálito corrompendo o silêncio que não se escuta nessa noite repleta de grilos? Venha viajar comigo e veremos a vida em todas as cores que nossos pincéis puserem pintar. As noites serão nossas. As noites serão do prazer e êxtase do Amor e Poesia. E, quando raiar o primeiro grito do sol, amada, iremos estar abraçadas em nossa nudez e nossos corpos alvos refletirão a vida que pulsa fora do quarto, nosso casulo. Dançará, no ar, a música de nossos gemidos e suspiros. Estes, perdurarão por anos, neste mesmo quarto e com nosso fulgor cavalgando nas costas do vento.

Vai, corre de onde estás!
Vem, para onde estou!
Caminha, para me encontrar!
Voa, como quem nunca voou!

Como os Deuses desejaram, seguiremos horas a amarmos-nos no peito dos astros, nos cabelos louros do Sol, no manto virginal da Lua. E, com teus lábios, conceberei meus primeiros versos. Vendo que só hei de conhecer a verdadeira Poesia, quando tiver-te em meus braços. Criaremos , com os acordes de nosso prazer mútuo, a sinfonia dos amantes. Esta, embalará as vidas póstumas à nossa, que é uma só para nós duas. Venha, e ,mostrar-te-ei tudo que sei fazer e o que aprendi nas horas e horas que passei a contemplar-te todo o corpo e Alma, enquanto dormias e eu velava teus sonhos. Ai, como tens feições de anjo! Seja dormindo, ou acordada. És a perfeição em seu estado máximo, a Poesia encarnada. És o meu poema preferido.


Eu amo-te.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

ode ao amor.


eu tenho amor pelo dia,
que me toca a face cansada.
eu tenho amor pela vida,
que me talha a morte com alegria mórbida.
eu tenho amor pelos pássaros,
que voam sem me pedir as asas.
eu tenho amor pelas pessoas,
que passam e não me olham.
eu tenho amor por tanta coisa,
que me sobra o ódio,
para verbalizar o amor.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Nós.


"Nós sempre fomos poema" _P. Lino_



embebida no licor da vontade, adoço algumas palavras para acariciar-te o paladar. em mim, como uma melodia às células, formiga o movimento nada exato do que se pode dizer, amor. caio e ajoelho-me, aos teus pés. balbucio a canção do mal do século que se foi. em gemidos, acorda meu coração. estremece, o meu corpo enervado e minhas asas, desfolham, para criar plumas mais escarlates ainda. sentes o farfalhar delas a acalentar-te o corpo nu? o manto virginal teu a confundir-se com o meu? são em momentos em que os deuses descem à Terra para contemplar a Natureza que criamos. Porque só precisamos de uma casinha, alimento e de nós duas. Beba do cálice da eternidade, que nos pertence. Alce vôo comigo e segure minha mão com a tua, tão alva. Beija-me as pétalas dos lábios e sirva-me do teu pólen.


Somos o êxtase do Amor e Poesia.


Invejem-nos.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

primeiro dia da criação.


eu corri pela casa
e te encontrei debaixo do tapete
gritei, sorridente:
sai daí, por favor!
mas como quem é surdo,
cego
mudo
criaste asas e trataste de voar
errou o caminho
bateu na janela
no guarda-roupa embutido
onde está guardada
a tua roupa,
o meu delírio
e um tanto mais.

quando voaste,
as flores morreram
o tempo - pálido-
adormeceu.
só sobrou no céu
um rastro
um caminho vermelho
e na minha testa
uma seta
uma veia, que errou de sangue
e bem no meio
dizia:
"esse alma minha,
esse corpo
é teu."



então, fez-se o dia.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

sou, quero.


eu calço os sapatos
que pisam na vida
o grão de poeira
o cascão da ferida
não há mais sentido
na minha exatidão
quebrei os ossos
te seguindo com os olhos
mordendo a terra
que cobria o meu chão

suei a água
que te inundou a vista
os ventos lentos
as pessoas
as tripas
tudo espalhado
no peito do asfalto
sem dó
ou sossego
cabelos
peitos
no reflexo da carne podre
sou o que cresce
e, logo depois,
morre.

sou o aborto da saudade de ti.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

(sopro)


Eu tenho ensaiado os movimentos. Quero te achar. Por aqui, decorando a vida de saudades. Vontade de saber o que estás fazendo agora. O que pensas, olhas, sentes. E pra mais perto de ti chegar, eu como a areia que pisam teus pés. Não vês o meu sorriso esvair-se na tua fumaça pobre e azul? Ou, quem sabe, os meus beijos transfigurados em água, no teu banho quente? Aquele, a qual tantas vezes me convidaste. Sou a inveja de qualquer coisa que te toque. Até do membro rijo dele a penetrar-te o prazer. Mas eu não te amo mais. Não como antes - esse antes que tatuou-se na minha carne. Martírio eficaz. Viraste saudade agoniante e eu, desespero guloso e fraco. Não gosto mais do que escrevo, portanto, esqueço as minhas horas escrevendo-te cartas, bilhetes, gritos, suspiros. Por que é preciso uma musa pra escrever. Pego na caneta pra sentir pulsar uma vida eloqüente. És o silêncio que não se ouve. O vaso que se quebra, só para virar um mosaico. A loucura na mente de um médico. A sanidade num manicômio. Não suba as escadas, lá há idas sem voltas, amada. Amada ou sentida? Saudosa, quem sabe. Quem sabe? Há tempos que não sei nada. Lembras? Foste tu quem ensinou. Não cruzo a linha, nem chego a gozar no final. Teu lugar não era mesmo comigo. Nunca te mandarei embora. Tu, o meu tratamento de choque.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

elogio.


na tempestade de mim, és a lágrima mais salgada.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

(caos)


um pouco perdida
no que falta de mim
deixo por aí as lombrigas
que me marcam o fim
nas páginas rasgadas
e nos pesadelos matinais
sem caminho
rua
ou estrada
luzes nem sinais

perco-me no caminho
de te encontrar
sobrevôo os moinhos
vou lá, olhar
tudo corta
o vento é navalha
e só vê a vida passar

ai de nós,
que vivemos.

sábado, 18 de agosto de 2007

gay pride.


amanhã, amanhã, amanhããã!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

cor.


eu quero mais cor

no asfalto da minha rua

eu quero mais cor

nos teus olhos cansados

eu quero mais cor

na tua boca suja

eu quero mais cor

no teu vocabulário ultrapassado

eu quero mais cor

no teu passatempo

eu quero mais cor

no teu beijo, no teu ventre

eu quero mais cor

na manhã que é nossa

eu quero mais cor

na boca da noite calorosa

eu quero mais cor

no hálito do vento

eu quero mais cor

no teu pensamento

eu quero mais cor

na tua aquarela

eu quero mais cor

em todo o continente

eu quero mais cor

em toda, toda gente

eu quero mais cor

no céu e no mar

eu quero mais cor

nos verbos, no falar

eu quero mais cor

nas fórmulas e desenhos

eu quero mais cor

eu quero mais cor

por favor,

coloram o vento.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

love is watching someone die.


eu não sei porque estou escrevendo pra ti, aline. talvez eu esteja tão desamparada agora que eu me force a sofrer por ti, mais um pouco. eu não sei que maldição foi essa que jogaste em mim, ao partires, mas eu caí fundo nesse meio-de-caminho e não mais encontro paz nem sossego. caos. caótico. tudo assim, sabe? eu queria mesmo era que me confortasses, agora. mas não podes, e eu finjo entender.


(pausa)


não, não é mais pra ti, aline.

chega.


(silêncio)


[grito]


visto a palavra 'não' com vontade de rasgar o mundo. vomitar a perfeição dos meus sentimentos imperfeitos no teu vestido tão novo e cheiroso que me curvo ao breve e leve roçar de teus olhos falsos sobre mim. eu não quero liberdade da sofreguidão cansativa que é o entregar-se sem pedir nada em troca, mas querendo. não tem nada de errado. não há nada fora do lugar. mas a casa está de cabeça para baixo, não vê? cuidado, os móveis podem nos esmagar. contanto que meu corpo esteja sobre o teu. farei força para não tocar-te e sustentar todo o peso em minhas costas. quem? não sei. eu acho que já apanhei muito, hoje. aqui, esperando o que e onde. os grãos de poeira dançam no chão, onde imaginei cada pedaço de saudade que me agridem os olhos. e eu minto: é a sujeira que me faz chorar. descansar em caos. conto quantas páginas faltam, em branco. risco, risco, risco. não me deixem ver o sol, quero queimar na chama da escuridão. os poetas vão embora e a minha casa tem sabor de tempestade. mas ninguém se afoga, só eu. e o vinho que sai dos meus olhos tinge a água. por favor, saiam daí. no meu último suspiro, pediria desculpas por morrer.






me embriagar,

até que lembres de mim.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

descansar em caos.


fecha os olhos:
me vê
abre os lábios:
me respira
levanta da cama:
me acha
deita no chão:
me toca
por favor,
não vai
por favor,
eu quero
por favor,
não posso
sem você, não dá.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

desabafo.

eu não aguento. sério mesmo, não aguento. porque você faz isso? poxa, eu queria tanto te colocar numa caixinha e tudo aquilo mais que eu disse. e amanhã eu estou preparando uma surpresa tão bonita que se fosse pra mim, eu saia na rua atraz da pessoa que o fez e daria um abraço daqueles, sabe? mas acho que você não vai fazer nada disso mesmo. mas eu queria muito muito que você o fizesse. poxa, como eu queria. e queria também que você gostasse de mim o tanto enorme que eu gosto de você. ia ser bom. eu enchia teu copo metade cheio e tu enchias o meu, metade vazio. e eu juro que atravessava a rua de mãos dadas. quantas vezes você quisesse. e não adianta, não adianta dizerem pra eu ter cuidado. é isso que dá, sabe? dormir cheirando a mão, contar as horas, esperar resposta, dormir ouvindo frank sinatra. eu não quero nem pensar no resto, quero dormir. mas lá nos sonhos, é perigoso. e eu grito grito grito. faço uma festa de grito. ouve, por favor. mas não só ouve, grita de volta. eu, ai.

sábado, 11 de agosto de 2007

fome.


o sonho.

o melhor dos sonhos.

pintado com leves pinceladas de saudade e volúpia.

ai.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

would you love me when i'm not myself?


caia em mim, como a chuva no asfalto que me segura os pés descalços. pois não sei mais quem sou. se sou, sou tu. até que de mim saia o corte do novo mundo no teu ventre virgem. rodeie o meu território e faça-me ter certeza que as luzes correram para abraçar-te os olhos fechados:


quero inventar um veneno
morrer de mim
quero cuspir no vento
lamber o fim
quero me embebedar
pra lembrar de fugir
quero um lugar aí
beira-mar
esqueci.



não entendo. não entendo. não entendo.
e falta vontade de.
você floresceu comigo. você floresceu comigo.
ai, eu acho que estou murchando.
ou é pura metamorfose, quem sabe.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

à Evelin. [com todo respeito, nina]


Ela subia as escadas
Mas esquecia de contar
Um dia cansou de ser boneca
Rasgou o mundo
Regou as idéias
Soltou as rédeas
E se jogou no mar
Não morreu
Só se embriagou
De coisa salgada
De vida e de cor
Hoje, tão sensível
Que nem posso tocar
Ela me mexe fundo
Me desbrava mundos
Me faz um sorriso novo
Com um suspiro lento
Faz arco-íris
Pra ela, dança o vento
E eu, poeta desgraçada
Quebro vidros
Conto os degraus da escada
Pra quando ela quiser
Por aqui voltar
E subir
Subir

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

wishing.


eu só queria que as estrelas brilhassem em três cores de novo.

merda.

domingo, 5 de agosto de 2007

toi.


que meu orvalho derrame aos teus pés.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

how come you never said you're sorry?


eu espero na linha do trem
eu costuro a minha roupa com fio dental
eu me encosto na cadeira torta
e torta fico.
porque um pedido desses é difícil?
eu não entendo,
a cigana até me concedeu um pedido.
mas se ela viesse, hoje,
eu diria - em um tom bem sutil e calmamente desesperado-
que não.
um não com todas as letras
um não saltando da minha língua
pra brincar nas entranhas dela.
então me deixa,
que eu ganhei tanto
em deixar de te amar.
não mais olhe no espelho e me beije
olha pra ti
e beija a tua alma pobre
e vazia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

ai de mim.


Na sombria paisagem de uma Lua cheia,
entrego aos anjos o meu leito:
Deitem-se, mexam-se!
Aqui jáz um peito calado.
Há tempos que não sou meu.
Movam-se!
Arranquem de mim, o lúgubre deus
o sopro alado.

Longe, a donzela ouve.
De lá, treme.
Não tremas, donzela minha
Cá está o teu poeta
Cá estou e beijo-te...


As imagens gritam ao meu desespero de estar. Cai em meus braços os gemidos fracos da Lua. Espalhada como que se em fios finos de um tecido branco, cobrindo tudo, exalando sombras.São esses devaneios meus o teu modo de sujar minha cama de espinhos dolorosamente agradáveis? ah, a tua delicadeza! Suspiro o meu grito murmurante. ouves, donzela, ouves? Por amor aos meus versos mudos, não me deixes. Ai de mim, que estou presa entre os dentes alvos de uma flor carnívora. Sim, as minhas flores têm dentes, nunca reparaste? Ah, donzela embriagada de fraquezas e minúcias próprias de uma deusa, cantes alto! Aqui os anjos fazem festa. Festa ao horror de não te poder levar ao leito florido e rubro, pela mão. Ai de mim, que beijo teus pés floridos para ver nascer em meus lábios o teu nome. Nessa paisagem sombria, onde mergulho vagarosamente, sinto o teu arfar. Ah, eu sonhei! Sonhei, donzela, sonhei com o teu hálito misturado ao meu, em trêmulas juras. No lago, onde o branco dos cisnes não mais maltrata a minha vista, vejo o teu semblante a bailar, ao lado da Lua. Hoje, cheia e uivante, a Lua transmite imagens confusas aos meus olhos embriagados no licor da saudade perfurante. Ah, ante a visão de um poeta ofuscado, és a rainha. Ai de mim, que aqui estou. Quando meu desejo é saciar a volúpia de meu peito. Vamos, matem-me logo se não podem trazê-la à mim. Ela, mais bela que a Poesia e a Natureza. À quem entrego o saber da minha existência. Sou o gemido que treme em tuas fitas. Teu perfume, donzela, é para enlouquecer-me. Ai.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

wish.

would you, please, touch my hand with your tiny star fingers once again?

quarta-feira, 25 de julho de 2007

cadê você?

cadê você?
a salada tá na mesa.
cadê você?
eu coloquei cobertores novos.
cadê você?
eu tenho um chapéu pra tapar o sol.
cadê você?
eu liguei o ar condicionado.
cadê você?
o violão tá calado.
cadê você?
eu quero cafuné.
cadê você?
eu fiz até café.
cadê você?
eu quero dizer que amo.
cadê você?
eu tenho um novo boneco de pano.
cadê você?
eu tô cantando sozinha.
cadê você?
não tem ninguém no quarto, na sala, na cozinha
cadê você?
eu tenho espaço na parede.
cadê você?
eu quero um abraço.
cadê você?
eu machuquei o pé.
cadê você?
eu quero chorar na praia.
cadê você?
eu quero subir dunas.
cadê você?
eu quero pegar chuva.
cadê você?
eu tenho um segredo.
cadê você?
eu sinto frio.
cadê você?
eu não tenho paz.
cadê você?
quando eu sou só a nostalgia
de não te achar mais.

85


eu desenhei no céu,
o teu nome
eu joguei no ar,
o teu sorriso
eu fiz voar,
o teu beijo
eu vi subir,
o teu amor
tanto que caiu tudo
em mim
de uma vez só.

domingo, 8 de julho de 2007

of course i do.


eu quero um grito absurdo, rompendo as minhas cordas vocais. um grito que me faça acordar a vizinhança e até, quem sabe, acordar a cigana pra fazê-la rezar, em toda sua veia ateísta. quero, com esse grito, fazer com que tu, que estás no hospital, te levantes e vás andando tão frágil e estrondosamente pura, entre as tosses e febres alheias. quero, também, que os anjos me ouçam e venham reclamar, dizendo que no céu não há barulho, só para que eu diga: "meu bem, comigo vocês estão no inferno". O meu grito será tão estridente, que quebrará os vidros, destruindo a redoma onde guardo as memórias que encravam a alma. As pessoas, de tão ensurdecidas, se colocarão a girar pelas ruas, fazendo com que os carros cantem para desviarem-se delas. acontecerão diversas mortes, é verdade. mas é esse o risco que se paga por não se nascer surdo.


na medida que meu grito for crescendo, nascerá em mim um desespero e eu tentarei cortar a garganta, para que o barulho cesse. não conseguirei e vocês todos, se arrependerão de me terem acordado.



agora.

recado ao peito aflito e às agulhas.

melhora logo, por favor.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

o espelho.

tem uma garota vomitando do meu lado. ela vomita os sonhos, os devaneios. saem todos verdes, nojentos. acho que é tudo que sobra dela. e ela está a expulsá-los de si. ela, entre soluços, diz: 'livre...' e segura um espelho:


não aguento mais os dias e a espera tortura. como um jogo. as bússolas invertidas e ampuletas aceleradas. os demônios gritam alto e entram no palácio celestial do desespero. começa o jogo. cospem na minha cara, me chamam de louca. meus remédios, eles guardam no teto, que não sei escalar. falam que eu siga as setas, mas estou vendada. flechas de fogo passam por todo lado, posso sentir o calor. trêmula em cada pé, penso para afastar-me delas. no ar, dança uma música de estremo pavor, como a nona sinfonia de beethoven, ou qualquer coisa do tipo, não consigo destingüir. eu, completamente apavorada, com frio que vem da espinha, apesar do calor da sala, tento dançar. danço para afastar os demônios, eles não gostam de festa. sim,o contrário do que dizem sobre eles.


os demônios são sempre o contrário do que achamos, meu amor.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

olha!

olha pra cima!
-cai uma estrela-
olha pro lado!
-cai uma folha-
olha pra frente!
-cai uma fruta-
olha pra trás!
-cai a lua-
olha pra dentro!
-já caiu tudo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

bilhete à outra de mim.


eu não sei quem sou. bato no relógio e reclamo com a vida. sai daqui e se joga no chão, por favor. diz que não acaba hoje. que eu fiquei tempo demais debaixo do chuveiro. não é fácil, tu sabes que não é fácil. acho que tem de ser assim mesmo, senão não é de verdade, entende? abro os olhos pro mundo podre que me queima os cílios. sou pedaço descartável, não me use demais. as tuas palavras de silêncio transparente e denso adentram minha carne e formigam. não ouses dizer que não esperavas isso. me poupe da tua frieza forjada. meto-te no meu fogão até que saias completamente menor. como teus cabelos e lambo teus olhos brancos. da próxima vez, avisa-me que vais ficar. vai embora! corre por minhas veias, suja meus pensamentos. eu odeio você, sabia? eu não te conheço. eu só queria que você sumisse. tayná, te fode, porra. não come mais as minhas entranhas, tu, que não sei o nome. os remédios não são o bastante contra você, não é? ah, energúmena, eu ainda te mato.


eu ainda te mato.




eu ainda te mato.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

nunca será um conjunto de dias.

Eu olho pra fora e vejo o dentro. aqui só há remendos. há o teu coração e o meu pulmão. os teus rins e o meu cérebro. respiro a dor do tempo e nem percebo que horas são. será que os ponteiros não reparam que eu quero que eles parem? que a minha bateria acabe? até que batam em mim, dizendo : "volta a funcionar, porcaria!"... é que hoje eu me sinto tão oca quanto essa bola de sabão... estou prestes a estourar, juro. recolho das minhas unhas o gosto que tinha a tua poesia e me embriago. sou verme, sou pó, sou o teu sapato.
Vou olhando lentamente, esses velhos retratos que me penteiam as paredes e na ânsia de os perceber, vou cosendo à ponta do polegar esse, este vazio que me corrompe as artérias, como esses malditos ponteiros, que não me escutam os pedidos, essas vozes que se cruzam na infinidade da minha garganta (já a engoli). E a pele que me varre o chão, vai sorrindo para a imensidão dos teus cabelos que rastejam pela dureza da cadeira.
Enquanto levo os teus lábios, esses teus lábios de jasmim, a passearem pelas minhas mãos. E me perco nesse lado de dentro, que não é lado nenhum. Porque hoje, não há lado de dentro. Tudo me parece o mesmo, o silêncio jaz na tua garganta (também, não a engoliste!)
e ao me perder, te encontro. a luz que se faz aqui, reverbera o teu silêncio. fico presa, observando. será que o mundo todo vê? eu queria era que todos dormissem. não cortem meus sonhos, por favor. porque descobri ter uma língua própria, onde há um só verbo e uma só pessoa. não, não me cubram de regalias, quero só o desmantelo da tarde. de volta. estou aqui, de volta à realidade esfumaçada dos sonhos. bebendo a escuma do mar. salgando meu sangue, pois que não mais quero ter sede dele. matar a fome de vampiro em outra veia, que não a minha.
Mas eles não dormem. E saber dessa minha língua,onde só uma cor me preenche os tímpanos, é querer dizer-lhes, a esses que não vestem o sono, como eu me tatuei na dor, que todo o conjunto de dias, é para mim, nestes meus olhos cegos, o teu rosto descomposto, esvoaçando por entre as vitrinas da minha casa. E eu nem queria ir para casa. Mas já há vida lá fora - o teu rosto (des)composto nunca foi um conjunto de dias.E hoje, não nasce em mim, essa saudade de viver - rebentar-me-ia com o peito.
Sim, há vida lá fora. mas e quando o dentro comer o fora, o que faremos nós? talvez andemos descalças por aí, desejando pisar em cacos, sentir o vermelho manchar a pele de novo. porque a morte vem e nem sente a vida gritando. não sente que esse mundo é um desespero e eu, louca e perdida, sinto o teu cheiro em cada canto, o teu gosto nas minhas feridas expostas. não me diga que o mundo acaba hoje, senão começarei a dançar até que me tenham de amputar os pés, já que o coração, já me foi tirado. olho pra cima, lá há o teu rosto, preto e branco. brancura que como com dedos sujos de poesia. não vês que em mim há mais dúvidas que certezas? e a minha dívida é com a vida. nefelibata desenfreada, perdida.
A morte virá e encharcar-nos-á esses pés, que se contentarão com os cacos - serão pedaços de nada, saltando por entre as ruas, em breves palpitações, para com o tudo. E esse odor que se infiltrará pela nossa casa (porque há vida lá fora) sujar-nos-á os retratos que nos penteiam as paredes e a brancura que nos cobrirá os dedos, afundar-se-á no polegar, onde outrora havia sido cosido esse vazio,amor. E com o pescoço deruçado sobre as mãos, por onde os teus lábios de jasmim ainda passeiam, aperceber-me-ei de que esse teu olhar não existirá apenas, quando eu erguer a cabeça, apoiando-a nos ombros. O teu perfume ecoará nos meus ouvidos, como a pronúncia habitual da minha dor (eu tatuei-me nela) e eu serei só mais uma canção antiga, uma melodia deficientemente composta - como uma cicatriz nesse teu pequeno canto esquerdo do rosto - o teu nunca será um conjunto de dias.





texto composto por Patrícia Lino e eu.
porque ela me inspira.sempre.

domingo, 1 de julho de 2007

AVISO:

aluga-se uma alma.






tratar com : tayná, a feiticeira.

scheisee.


um dois três quatro
começo por aqui
esqueço os dias
abro os braços
lembro de mim

não grito
só digo
não deixarei
ne me quitte pas

e na rua de rosas
ou coisa qualquer colorida
não sou mais mulher
sou só ferida

não, não digas isto
por favor.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

dia do nosso orgulho.


dia do orgulho gay.



porque todos temos o direito de amar, não importa a forma. queremos amor, saltando do peito e entrando na carne. não importa cor, sexo, raça. nada importa, contando que seja regado por essa onda vermelha. somos todos iguais. somos todos humanos. preconceito é pura necessidade de auto-afirmação. não se deixem levar por coisas do tipo. amor é amor e por o ser, já basta. mandemos os preconceituosos pra putaquepariu, e tenho dito.


parabéns, para todos nós.




e,ah, sim, sou bisexual e muito feliz com o meu poeta, obrigada.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Parabéns, Patrícia.


Aqui ainda 26, lá 27.


Hoje, ou amanhã, como queiram, é o dia dela. É o dia de cair na vida e recitar poesia pelas ruas. É o dia em que não me conformo e engulo o oceano num só gole. Porque não há palavras o bastante para descrever o abraço que eu queria dar-lhe agora. E, Patrícia, quero que saibas que vibra em mim o teu nome e corre em minhas veias a tua poesia minha, a minha poesia tua. O gosto amargo dissolve-se e me cubro de um manto de lembranças, que me entorpece a mente e esquenta o peito. Quero hoje que os anjos desçam no céu e venham comigo, a carregar-te por entre as nuvens. Te roubarei estrelas e até a Lua, para que a pendures no pescoçoe e brilhe, mesmo quando apetecer-te apenas conversar com as sombras.

Na verdade, não tenho exatas palavras para expressar-me. E sempre foi assim : a Tayná sem palavras para com Patrícia. Entenda meu silêncio como toda a devoção que há em mim, por ti. Quero abrir meus braços e te ver lá, olhando-me, te direi exatamente isto:


- Hoje, hoje, meu anjo. Venha, dê-me a mão. Voaremos e cantaremos em nossos sotaques destintos. Deitaremos nas nuvens e lá, absorveremos toda a poesia vindo do que há de mais belo. Venha, venha comigo.


E partiremos.



Hoje, amanhã, mais que nunca, o pensamento é teu.

Hoje eu jogo fora a alma

eu arranho o vento

eu cantarolo o momento

e te espero pra sempre

para navegarmos nos olhos nosssos

e encontrarmos o cabelo da vida

e nos infiltrarmos nele

até o fim

até que em ti

caiba a minha.



Tome meu silêncio como teu. Me mata, me reviva. Faça o que quiser.



Parabéns, por existires, Patrícia.

domingo, 24 de junho de 2007

pra lá e pra cá.

- eu não sei,sabe.
- não sabe o que?
- isso.
- isso o que?
- ah, eu já disse que não sei.
- mas o que acontece?
- um comichão no coração.
- hã?
- desce amargo e perfura. e coça, mas não tem como coçar o coração, tem?
- não, acho que não.
- mas talvez nem seja o coração, sabe. talvez seja a alma.
- e tem como coçar a alma?
- não, não tem. acho até que é mais difícil.
- então eu invento.
- não, não faz isso.
- porque?
- porque eu preciso.
- então! por isso que vou inventar.
- não, você não entendeu.
- não entendi o que?
- eu preciso sofrer.
- credo. porque?
- porque eu firo.
- fere, é?
- firo, tanto quanto essa coceira na alma.
- não acho.
- você não precisa achar, eu tenho certeza.
- você tá sendo frio.
- eu avisei.

sábado, 23 de junho de 2007

mas se eu...


se eu chegar tarde, me espera
se eu cedo aparecer, me abraça
se eu te ligar de madrugada, me acolhe
se eu gritar, me perdoa
se eu calar, me grita
se eu cair, me segura
se eu sorrir, fotografa
se eu correr, me acompanha
se eu viver, não morre
se eu dormir, me acorda
se eu sonhar, me ouve
se eu beber, me controla
se eu fumar, me perfuma
se eu me drogar, faz o mesmo
se eu pular, te abaixa
se eu me abaixar, pula
se eu beijar, me morde
se eu sumir, me procura
se eu aparecer, me faz cócegas
se eu não gritar, faz mais
se eu iludir, me bate
se eu cansar, me carrega
se eu errar, me concerta
se eu voar, voa comigo
se eu for, sê
se eu desistir, me ilumina
se eu apagar, me escreve
se eu chorar, me seca
se eu criar, distrói
se eu for, vai também
se eu lembrar, me esquece
se eu contar, escuta
se eu não dormir, acorda
se eu mastigar, engole
se eu vomitar, me dá banho
se eu morrer, te mata
se eu odiar, compreende
se eu esquecer, me lembra
se eu cantar, toca
se eu sussurrar, ouve
se eu sentir calor, me abana
se eu comer, faz suco
se eu não aguentar, aguenta por mim
se eu não estudar, me dá cola
se eu aprender, te ensino
se eu desejar, realiza
se eu arrotar, ri
se eu amar
bom, aí eu deixo você escolher.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

quem és tu?


é que, sabe, eu não entendo. não entendo mesmo e isso em agonia, ou melhor -ou pior- dói. não devia ser assim. foi macumba ou qualquer coisa, eu juro. e eu giro os olhos por aí mas não tem ninguém pra ouvir. ninguém quer ouvir. as pessoas estão cansadas. e eu com preguiça delas. não é fácil. demais pra mim, eu diria se ainda soubesse falar. escrevo nas paredes pra não esquecer. amanhã é dia de viver, tayná. tem isso rabiscado por todo canto. mas sempre me esqueço. as horas nunca pareceram tão vivas. eu enxugo o rosto, pra lavar de mim essa saudade que se prende nos olhos. eu tento gritar, sabe. mas me prendo forte à cadeira e não caio. não, podem me balançar, me sacudir, me bater, mas não caio. ou talvez, já tenha caído e nem saiba ainda. isso é o que vocês deviam me dizer, não eu concluir. eu não aguento. o rosto lindo, a lembrança apagada e, ao mesmo tempo, tão viva que arde. beijo a minha janela. alma polida e um tanto enferrujada. se alguém se esbarra em mim, é tetano na hora. mora algo aqui dentro que morde. morde fundo e eu fico tão sem forças. porque dormir dói. sonhar mata. e ter pesadelos acorda. isso tudo é um ciclo vicioso e o meu circulo perfeito se desfaz na água, onde joguei uma pedra e depois outra. estrondo. a água não faz barulho mas me levaria longe. tão longe que os olhos de vocês não mais molhariam-se por minha causa. eu não queria fazer tanta coisa. não quero fugir mais. quero me esconder num canto escuro do quarto e escutar que vais me puxar. numa voz triste e diferente. porque alguma coisa não está certa e eu juro que a culpa não é minha. mas você não pode saber. e alguém já sabe. e isso era segredo. ah, como eu queria ter um botão de auto destruição. homem-bomba, me empresta a tua força de destruir a língua? quero calar os dedos, principalmente. colocar o coração numa garrafa e por no oceano. eu já me perdi e era hora de apareceres. filosofo. eu filosofo contigo.

solidão de aeroporto.


é que sem você aqui, as luzinhas param de piscar e fica tudo um breu e eu sem palavras, me escondo nas cobertas esperando que o bicho-papão, por sorte ou acaso, seja você. e nesse mundo debaixo do cobertor há lulas gigantes, peixes engolidores de sonhos, fadas carnívoras, águas vivas superácidas, cachorros famintos, pássaros vampiros mas nenhum bicho-papão. porque você tá longe e não aparece. e eu fico repetindo 'bah bah bah tchê quarrrto' pra ver se consigo imitar o teu sotaque que acho tão engraçado e bonito e te sentir um pouquinho, mas só um pouquinho meudeus, mais perto. e essa distância toda me afeta o coração e ativa o alarme e no mesmo instante milhões de alfinetes de cabecinhas coloridas perfuram-o. e dói. poxa, dói tanto. quando o ar toca a minha pele e eu sinto todos esses pelinhos começarem a dançar e todo mundo falando & falando & falando e eu querendo sair correndo pra nunca mais me acharem e talvez assim, você apareça no meu escondeirijo e me salve das garras afiadas e vermelhas da vida que continua porque quer. e eu tenho umonte de coisas pra fazer e eu penso puxa como eu gosto da voz dele e queria que ela não sumisse nunca naquela caixinha cheia de números e letras e imagens e luzes. agora ainda é um pouquinho cedo e eu aqui, querendo ser um relógio e girar girar girar. faça cócegas até eu gritar, por favor. eu vou gritar bastante, eu prometo. e eu vou escolher o meu sorriso mais bonito pra grudar no teu. me leva pra qualquer lugar que seja longe dessas pessoas que não sabem amar e me machucam tanto quanto os homens machucam a camada de ozônio. por favor.

note II

eu só queria gritar.




e queria muito, muito mesmo, que ouvisses e gritasses de volta.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

apelo.


jogo as chances no ventilador. quero que espalhem-se por todo o meu quarto, enchendo-me de um cheiro de esperança. porque as horas passam e minha garganta se fecha. e essa unha arranha e arranha o fundo. quero cuspir. desaprendi a soltar a fera. agora adormecida, no chão da minha mente avariada. talvez branca, alta, magra e doente demais, eu seja. não ouçam a minha voz. morrerão de sono, sem dormir. então sossegue os passos e abra os braços pra eu me aninhar. o caminho mais fácil é aquele onde as pedras são sobremesa e o meu coração, o prato principal. pra pesar mais, um coração tão encharcado assim. não se atreva a investigar a minha mudez. darei um grito que ensurdescerá o mundo, de uma só vez. eu estou catando os cacos, meu amor. para colar com meu sangue. meu mosaico. não cuspa mais essa saudade na minha cara. é tão ácida que me deixa vagando por aí, arranhando as paredes só pra me fazer arrepiar com o barulho agoniante. sou aguda assim, sabias? tusso, tusso e não sai um germe. só fumaça sem cor. transpareço no espaço que nos divide. adentro o teu corpo como alfinete em peitos abertos. sobre amor e doenças. não creia. ela não pensa. e apaga-me como se faz com memória ruim. ah, pelamor, não me deixe mais uma noite assim, sozinha.

quarta-feira, 20 de junho de 2007

-

arranha a garganta
com unha de aranha
tanto que assanha
a puta da minha voz
que sai igual iguana
verde e estranha
ardendo as entranhas
na porra do sol.

terça-feira, 19 de junho de 2007

eu e as deformações.

eco de um lado
mão de outro
sou um suspiro
um grito
um beijo
sou sexo
com amor
sou nada
seja lá o que isso for
e quando não sou
derramo no chão
entro nos vermes
cato os vidros
como sangue quente
adentro o coração
vou comendo os pedaços de gente
qualquer um que vem pela frente
pode ser a vítima
de mim, o cão
mas sou também anjo
flor com pétalas rosadas
pena de travesseiro
ervilha embaixo da almofada
e quem não me sente
é porque não é princesa
não é príncipe nem sapo
é só uma caixinha
que não gosta de surpresa
e uma barriga cheia
que nem o meu saco.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

twee pop kind of love.


obrigada por ter ido
e deixado o meu cansaço
guardo no prato um sorriso
que devoro com o garfo

abraço as minhas costas
arranho um nome nelas
sinto vento frio
e corro pra janela

lá tem uma nuvem
negra com diamantes
canta pra mim, delírios
como se eu fosse sua amante

e me ensina a versar
versinhos bonitinhos assim
porque é doce e imperfeito
como ele é pra mim.

domingo, 17 de junho de 2007

note.

Mundo, 17/06/07


recolha, por favor, as suas fadas carnívoras, sua escova de dentes, seus chinelos, seus sorrisos e suas lágrimas e vá embora.




obrigada.



a tayná.

sábado, 16 de junho de 2007

emptiness still leaves a space.


Incoerência dos sentidos. Mata-se tudo que se ama. Sou presa por não amar e livre por ser amada. Sentindo as pontadas de angústia no ventre. Cantarolando Piaf num sotaque ridículo. Nada mais importa e os cortes voltam. Bem menos e escondidos, desta vez. Dorme, dorme que eu não me importo mais. Que chorem lágrimas ácidas sobre nós, os anjos. Queimando a vida com uma luz flamejante. Diga que me ama antes de chegar. O tempo cansa e transmite sonhos. Meus pesadelos acabam de acordar.

Eu não sei qual seria o último pedido. Imcompreensível assi, eu. Vezenquando bate a saudade. Então, eu levanto, vou à janela gradeada e sacudo a alma. Não quero mais. Que não reste nenhum vestígio em mim. Na minha pele, galeria de arte decadente. Porque não vejo sorrisos. Enquanto ele chora, eu grito. Eu sequei e não existe mais rio. Só um mar. Tão salgado quanto o que não tenho mais. E a paz? A paz é uma palavra que tenta causar alívio mas só nos deixa mais violentos e desesperados, pela lucidez louca de saber que nunca iremos tê-la. Quero colo frio pra me tirar desse inferno. Dormir sozinha, na sala de aula barulhenta. Não fazer bagunça. Não sujar a vida. Minha alma é tão negra quanto o fundo dos meus olhos. E o preconceito? E o preconceito, Tayná? Não existe. É só uma necessidade de auto-afirmação.

Não existe mais delicadeza. Só uma coisa forçada e que faz a cabeça coçar, meio sem jeito. O gosto daquilo que nunca provei. Tenho medo. Os membros amputados no meu teto só assustam aqueles que nunca amaram. Pobres formigas esmagadas pela solidão seca causada por minha alma encharcada. Não aguento. Juro que não aguento. Lábios duros, tão mortos quanto a vida de olhos fechados. Me escondam, por favor. Chega de aberrações por hoje. Me sinto sufocada aqui. Que me tragam algo, hoje sou uma overdose de ti, nada.

Juro que se não houvesse isso que não tem nome, eu não precisaria escrever. O negócio é que há. E há beleza que não posso - ou quero- tocar, ao meu lado. Acho que não acredito em mais nada. Nem no amor. Meu ou deles. Isso e pior do que eu imaginava. Eles não entendem e eu não facilito. Que seja assim, eu não sou a porra de um vestibular mesmo. Piadas idiotas, eles contam enquanto riem. Falta ar aqui. Em mim, o surto das coisas que não fiz. Má conduta. Não acredito em educação. Tá vendo? Cheguei ao ápice. Ápice do vazio.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

mon ménage a moi



quero não lutar. quero não querer mais nada. porque aqui o tempo só passa e tenho medo do pó. pó que me torno e à quem faço perguntas. sem pontos, maiúsculas ou entonação. beijando os olhos da vida para que ela durma e me deixe degustar minha insônia. vulcões e palavras como labaredas ásperas. comendo a pele, contorcendo tudo até parecer plástico queimado. negro e engilhado. que nos braços da loucura, eu caio bem. eternamente Caio, nós. porque a roda continua girando e eu aqui, querendo escalá-la com os dentes. não me traga uma mão vazia. me traga um membro amputado. pendurarei na janela. farei da tua dor, quadro. para que eu não mais tenha medo e veja como está tudo bonito e o mocinho na moto branca, dessa vez é meu. e eu digo as palavras que tu fizeste, não ligo. porque não me feres mais. porque tenho coragem e é muito bom assim. acalmo os meus movimentos com Piaf. despedaço-me nos braços do vento. que comam-me os vermes. que transem sobre meu tormento, as minhocas. acho um nome tão bonito. mi-nho-cas. gritem e elas dançam. uma dança melada e suja. como quase tudo é, aqui.





foto de Diane Arbus.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

presente.

eu coloco um pedaço de papel alumínio na boca. devagar, vou mordendo. Até que fique bem fino e quase uma bolinha. então, engulo. vou administrando o caminho dele pelo meu intestino. passa arrastando com sua aspereza em todos os cantos. viaja secamente pelas veias entupidas e consegue chegar no coração. o embrulha. coloca o coração em banho-maria hemoglobina. depois, vomito-o, só ele.


aqui está.meu coração.de presente. pra ti.

terça-feira, 12 de junho de 2007

ateu.


meio disiludida nas ruas cheias de formigas e formigueiros. cansada de arrancar suas antenas, paro e reflito:


ser ateu. ser ateu? poderia dizer "ser teu", mas não, é "ser ateu" mesmo. não sei até onde essa discussão sobre no que acreditar ou não pode me levar, mas me assanha. eu, em minha vã filosofia, como já dissera Shakespeare, não acredito que alguém possa declarar-se ateu. afinal, o que é isso? deixe-me consultar o dicionário: bom, há vários significados, mas vamos por parte:


1- "aquele que nega a existência de deus [em minúscula mesmo].


até aí, eu concordo. é possível e aceitável que não acreditem (emos) na existência desse deus. todo poderoso e onipresente. não creio mesmo que existira alguém tão bom e tão dotado. não cabe em mim a noção de que o mundo fora feito por mãos mágicas, divinas. a ciência me preenche esse vazio, certamente. porque, como poderiam explicar a violência, a ignorância e todas essas coisas que há no ser humano? live arbítrio? me poupe. pra mim isso parece uma desculpa da igreja para aquilo que não conseguem explicar. e é sempre assim, não? quando não se sabe algo, ou inventa uma mentira sincera ou diz que não lembra. assim sou eu, quando não conheço algo, digo que não lembro, pra parecer menos burra. se ser ateu fosse só isso, eu poderia ser um.


2- "incrédulo".


vejamos, é possível mesmo que uma pessoa consiga viver sem crer em nada? não, para mim, não é. tudo bem que não se acredite em deus e todas essas coisas que acho uma baboseira só. Mas não acreditar em nada? nada mesmo? por favor. se acordamos é porque acreditamos que há uma vida. Há a natureza, há a ciência. como alguém viveria sem crer que nas coisas simples como o vento, o sol, a vida, o amor. Alguém vive sem amor? até os mais solitários que já conheci, viviam porque acreditavam que o amor os salvaria. sempre, nos momentos de medo, acreditamos em algo, nem que seja que vamos morrer naquela hora. vivemos para acreditar. os conceitos mudam, a vida dá voltas mas sempre estamos a acreditar em algo, caso não, estariamos todos enterradinhos num quintal qualquer. os olhos tão assustados que nem os vermes iriam querer.


3- "ímpio".

pode ser lido como "cruel", também. o que acho um tremendo de um preconceito vindo de um dicionário. só porque não se acredita no deus todo poderoso e não segue uma religião, há de considerar alguém cruel? caramba, queimem os dicionários!




mas, vem cá, na hora do desespero, quando não se vê mais possibilidade pra nada, em que tudo está prestes a desabar nos pés delicados de uma alma viva, não dá vontade de citar aquelas palavras decoradas que aprendeu quando criança ainda?



pra mim, na hora do desespero, ninguém é ateu.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

.

no quadro negro uma palavra
chuva
hoje aprenderemos como se lava
a alma
e depois se enxuga.

domingo, 10 de junho de 2007

idiotic.

só de acordar, os dias caem em desespero
não sou mais ela, sou a outra
de cabelos longos
olhos negros

na imensidão que é o grito
sobem alto os pássaros
não sou homem nem mito
tenho os pés descalços

e não me perguntem porque
há de ser assim
é que quando escorre pela escada
chega doendo até mim

calo os versos e abro a boca
surpresas pintadas
um dois três quatro
cala a boca
desgraça
vou embora
pro teu quarto.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

dull.

passos mudos e sinceros. piso com força nesse chão que não afunda. peso-pena. os olhos passeiam pelo mundo ao redor. nada comove, tudo toca. inacreditável, estar assim. quando os minutos são atingidos pelos ponteiros negros como cílios, o mundo todo se torna água e eu passo a mão pelo reflexo. tudo dissolvido, assim como num gole de bebida. álcool rasgando a garganta. gritos abafados e suspiros assanhados. ouço o teu caminhar de longe. da tua loucura quero provar até que não sobre uma só gota. entorne o cálice deste teu licor sacro sobre meus lábios rubros de Poesia e vontade. os dedos céleres percorrem a vibração das cordas vocais, tão cansadas. cansadas demais para um dia calado. tão mudo assim e sem controle. as respostas se escondem nos cantos da tua boca, sorrindo ávidas para mim. porque eu não sei mais nada e os ventos doces são tão desnorteadores que fico desse jeito, tão. as confusões caindo aos meus pés e me lambendo, com línguas ácidas, as chagas curadas. porque o teu abraço imprimido no meu corpo e como a gente viajava naquela fumaça me fez ganhar o dia. um sorriso causado pelo sol na minha cara e pela a tua presença no arder das minhas veias. sons ecoando no espaço entre dois corpos embriagados de distância. porque eu como os quilômetros e me engasgo. não há ninguém para soprar-me a testa. o vazio repleto de coisas velhas, acumulado no ventre-abrigo. porque me recolho e junto meus pedaços, tentando alcançar tua mão de algodão plantado na lama. a minha língua de Syvvy percorre a tua nuca para cair nas tuas mãos riscadas de movimento. balançando a alma continuadamente. sem interromper o ciclo vicioso de uma mente fosca. nada mais salva o mundo. i'd break the back of love for you.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

tayná nas nuvens indigo-laranja.


vem, aparece. quero te mostrar como o céu é bonito, aqui nesse vento quente. como as estrelas são pequenininhas e mais parecem um colar de brilhantes de um negão que se chama Noite. quero ficar no teu colo e receber todo o carinho do mundo. as formiguinhas passam e eu quero que tu estejas aqui pra me ajudar a acabar com suas miseráveis e açucaradas vidas. porque elas entraram no meu pote de açúcar e quando eu fui adoçar o café, tinha umas duas formigas-suicidas lá, defuntinhas no meu café ruim. mas faz bem pra vista, eles dizem. e Björk no fundo, cantando coisas como 'oh, i miss you but i haven't met you yet' ou Caetano com 'às vezes no silêncio da noite, eu fico imaginando nós dois'. bem, eles me entendem. se bem que as noites não têm sido tão assim, silenciosas. porque parece que passo as horas todas gritando o teu nome aqui dentro.


vem, aparece. porque eu tou com um enjôo daqueles ruins mesmo e sinto que devia estar no seu colo, com você me fazendo massagem na barriga. e as pílulas que eu não tomei hoje, sabe? você faz o efeito delas, mas diferente. faz um-trilhão-quatrocentos-e-cinquenta-e-sete-bilhões-novecentos-e-quarenta-e-seis-milhões-e-trezentos-e-trinta vezes melhor.e além. e nesse exato segundo eu lembrei do dia que você voltou pra casa e não foi pra festa porque a gente queria era ficar se falando e de como, naquele momento todo, eu desejei mais que nunca ser mesmo o abismo-flor. e de como eu sabia sem saber que você já estava tão em mim que nem que eu tentasse, conseguiria escapar from falling for you.


vem, aparece. que essa saudade devoradora de entranhas, dói. uma dorzinha assim gostosa, sabe? que vai comendo você por dentro mas sem deixar de fazer uma cócega tão agradável que dá vontade de ficar assim doendo para siempre. mergulho na chuva e ela me conta segredos tão lindos que eu sinto arrepios por todo o corpo. queria te contar, timtim por timtim, a minha vida. tudo que sei dela, até hoje. e vou contar, daqui um mês. ah, só um mês, amor, só um mês maledeto nos "separa" da plenitude dos sentimentos e do bem [ou ótemo] estar.
baby, you're so vicious.


tá, eu sei que sôo boba e que você, quando ler, provavelmente vai pensar "mais que menina mais boba & idiota, essa" , mas é que eu não passo mais de uma menina boba e apaixonada que não saber falar de outra coisa a não ser do que sente.

cala a boca, tayná.

eu não consigo mais escrever coisas amargas.


estranho.





estranho-bom.

poema bobo.

os pinguinhos de chuva molham o meu cabelo
eu engulo cada um
que me toca os lábios
eles fazem cócega
e eu solto um sorriso.

desenho um mundo novo
todo colorido e simples
onde chova sempre
e aqui dentro só sobra a gente
se amando e cantando
que nem um dilúvio afoga
essa coisa doida
que parece cafuné
e beijo
e carinho
e é mais doce que leite moça
e mais bonito que vela no breu

porque a tayná é toda dele
e o fernando é só meu.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

i wait for you like a dog.


espero pelo momento. momento em que sobe ali o nome que me deixa tremendo. porque as horas custam a passar e o relógio mais parece veneno. porque ele é vicioso e eu quero ter uma overdose. um dia a menos, é sempre bom pensar. enquanto ele trabalha & bebe & fuma, eu fico aqui, com o meu resto de vinho e a carteira pela metade tentando contar nos dedos os segundos e com as batidas do peito - cada vez mais apressadas- calculando quanto tempo falta. porque eu quero-o aqui, dizendo todas aquelas coisas lindas, que só ele sabe dizer.


os cacos de vidro viram flores e eu me derramo pelas escadas, engulo fumaça, que é Ele, transfigurado. Porque ele é o meu amor, meu poeta, minha chuva, minha fumaça, meu travesseiro, meu príncipe-mendigo, meu tudo. foi tão de repente, como uma dança maluca ou um gole de vinho, descendo com força e delicadesa, me deixando desnorteada e abdicando de tudo, para ser Dele e mais nada. Ou tudo. Porque com ele o universo parece tão pequenininho que eu posso segurá-lo na ponta dos dedos. e eu quero tanto tanto tanto que ele chegue logo pra ouvir a voz cansada e triste mais linda do mundo. e eu prometo que não durmo essa noite. ah, eu quero.


quero todo o tempo do mundo pra beijar e abraçar e amar.



toda, completamente entregue, eu.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Like someone in love- chet baker

Lately, I find myself gazing at stars,
hearing guitars like someone in love.
Sometimes the things I do astound me,
mostly whenever you're around me.
Lately I seem to walk as though I had wings,
bump into things like someone in love.
Each time I look at you, I'm limp as a glove,
and feeling like someone in love.
Lately I seem to walk as though I had wings,
bump into things like someone in love.
Each time I look at you, I'm limp as a glove,
and feeling like someone in love.
Feeling like someone in love....
....In love.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

panda.



seis estrelas pra mostrar como é. conto os dias, nado contra a maré. pra te encontrar ali, na terceira margem do rio. comendo frutas amarelas e se sujando. eu chego e te limpo com a barra do meu vestido. você sorri e eu também. a gente se deita na grama mais verde do mundo e as formigas passam por cima de nós. eu te olho fundo. tu olhas pra mim. como teus olhos negros com recheio de poesia branca, ou marfim.


de lá vemos o céu e tu dizes " como ele é indigo, daqui de baixo", porque lá perto deve ser roxo, violeta. passeio as mãos pelos teus cabelos e digo que são macios. canto músicas que a gente conhece e conto segredos de liqüidificador. procuro um formato de nuvem e digo que é pra ti. lá, do lado do cachorro de boca aberta e do violão, vê? é, é pra você. eu que mandei fazer e decidi te dar só agora. achei melhor, a melhor hora. pra te dar e ter, assim.


na nossa vida nova, as cores se invertem. eu te adoro pelo avesso. eu te conto piadas que nos divertem e nos captam pra fora desse mundo vazio repleto de coisas que a gente não usa, como a tua televisão quebrada desde meses atrás. levo nossa casa numa mochila e me ponho a andar. tu ficas lá, me olhando e eu digo 'vamos logo, panda, que a noite já vai começar'.


as mãos em concha e um mundo novo, brotando.

domingo, 3 de junho de 2007

.

eu mostrava os buraquinhos,
cantava fino
e não saia mais.

sábado, 2 de junho de 2007

ri, fernando.


eu daria pra ele todos os dias.


entro pela sala e ele está lá, sentado na frente da janela, em posição de criança que olha mas não vê. chego e me deito bem do lado, como quem nem o percebe. ofereço um cigarro. ele aceita. acendo pra ele, fazendo aquela casinha de mãos, quase sinto toda sua tristeza naquela proximidade. o perfume de poesia que ele exala preenche o meu estômago. mastigo fernando. solto fios de amargura no chão do quarto. ele percebe, abaixa um pouco e vai engolindo,um por um. depois disso, sou eu quem está dentro dele. percorro os pontos máximos e mínimos. lhe causo cócegas e cólera. mas o conheço, ao fundo. assovio canções de árvores de plástico, ele sente. se levanta e me convida. uma dança doida, dessas que só se vê em momentos em que duas mentes completamente estupradas se unem. como nós. depois, já cançados e sem pernas, o ponho a deitar a cabeça nas minhas pernas estendidas no chão sujo de vermelho e verde. que cabelos macios, ele tem! passeio os dedos como se fossem uma criança vagando por entre uma floresta negra e perfumada. baby, we're a complete disaster. duas almas desgraçadas pelo amor. pedindo esmola na rua e economizando o dinheiro que nos resta. lambemos o fundo do poço e sorrimos. um sorriso sarcástico, de quem sabe que a vida é mesmo uma puta e somos todos filhos dela. corto metade do meu miocárdio e colo no peito dele. pronto, agora posso ir.



see you soon.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

i'm a jailbird to your music


i just gotta get out of my chest that i think you're divine.


ah, nina-nina little star...


preciso dizer que você afoga minhas lágrimas que não caem com sorrisos bobos de quem sonhava com dias assim. eu quero te pegar e levar pra bem longe, lá pra lalalândia ou qualquer outro lugar, te comprar um sorvete gigante e ficar observando você se lambusar toda com aquela coisa gelada e colorida. porque você é tão purpurinada e brilhante que eu preciso de tocar pra saber que é real. ou só ouvir a sua vozinha adocicada dizendo coisas com o sotaque mais lindo que já ouvi. e eu te ouço cantar pra lá e pra cá na minha cabeça. você não sai de mim e eu só quero estar com você. porque eu até esqueço da moça que me fere e só quero saber de te escrever coisas e mais coisas todas lindas e doces. porque você merece, porque você é divina. ah, nina-nina, obrigada por me abraçar assim.

Terceira carta para nunca ser entregue.

Tenho ouvido muito Chico Buarque recentemente. A versão dele de "olhos nos olhos" me toca fundo na alma. Hoje me vi novamente embebida no teu veneno. Caindo pelos cantos, sem conseguir levantar. Sabe, hoje te escrevo para dizer o quanto me fizeste miserável. E eu que andava tão fraca, acreditei que eras minha.

Prometi pra mim que não mais ia lamentar. Beijar o chão que pisas. Mas é tão forte e grande que cospe em mim e me humilha. Se eu pudesse, reunia todas as minhas forças pra te dar um tapa na cara. Enchia teu corpo de manchas roxas e nem me importava. Mas eu não tenho mais força nenhuma. Só engulo fumaça e cuspo nuvem. Não sei mais o que falar pra ninguém e me embriago por aí. Ouço músicas que falam de futuros aconchegantes e dá vontade de meter sete tiros no rádio.

Sei que aí as coisas andam boas, mas é que o nosso amor era tão pobre. Cheio de cafuné e lágrimas que eu peço agora esmola à qualquer um que passa. Mas ninguém me olha na cara, quanto mais no peito aberto! Cheio de feridas e de vermes repleto. Ai de mim que te amei como uma louca! Louca ciente de que aqui o mundo era quente e eu me resfriava de ti. Criava até leucemia só para ser transferida pra um hospital mais perto daí. Mas as doenças não bastavam. Não chegavam as tentativas. Eu era toda tua e pobre e insana, ainda acreditava que eras minha.

Mas os dias passaram e o telefone só tocava. Dez, vinte vezes e nada. Um "agora chega, vou seguir a estrada" atropelou o peito meu. O que era sorriso virou lágrima, o sol de meio dia virou breu. Desde lá venho rastejando, comendo teu lixo e me queixando da tua partida desesperada. Partida doida, avariada. Que fez de mim uma poetisa repetida, cruel e desgraçada. Ah, mas tu me dás a poesia. Me rega com ácido e me enche de agonia. O bastante pra parir textos que rimem. Com um sorriso de virgem e uma lombriga no umbigo. Ah, daqui pra frente eu só repito.



"Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc e tal"

_"Apesar de você", C. Buarque_



com todo amor e desprezo,


Tayná.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

particularidades de um amor desgraçado.

"Bem vejo que te amo como uma louca: contudo não me queixo de todos os ímpetos violentos do meu coração; habituo-me às suas perseguições; e mal poderia viver sem um particular prazer que descubro e desfruto, amando-te entre mil dores e pesares..."

_"Segunda Carta", S.M. Alcoforado_



sento-me perto da janela. a janela vem até o chão, me acompanhando. a vista lá fora é completamente diferente dessa aqui de dentro. lá fora faz frio e as pessoas andam sem se olhar. esbarrando nos próprios erros e culpando os outros. eu esbarro nas próprias lágrimas-pétalas e te culpo. sopro suavemente o vidro quebradiço. embaça. uma meia circuferência. quase lua. e um rosto refletindo uma alma destruída. se eu olhar além da vista, posso me ver, é verdade. ali, como segundo fundo. ou primeiro, tanto faz. lá, escondidinha, eu sussurro canções que nos fizeram dançar.cantar.gritar.chorar. eu colho as flores do meu passado e ponho-as num supedâneo. onde, pousam os teus pés descalços.

um presente meia-boca, há de se dizer. aqui morrem as esperanças de um caminhar descansado. porque ficam loucas as horas do meu dia. invertindo-se. sonos intercalados. faço massagem nas próprias costas. dói tudo. talvez eu precise de mãos que me cubram a face envergonhada e braços que acolham o sorriso avariado. embriago-me e vejo o mundo girar. é tão bonito assim, mais colorido. as pessoas olham assustadas e eu caio na gargalhada. desespero de não te ter. aqui, faz calor. eu suo, suo, suo. tu cais sobre a minha pele. garoa. eu fico lambendo-me feito gato, tentando engolir cada mínimo de ti, em mim. tudo tão cansado que os olhos ficam baixos. as saudades deixam-me irrequieta. procurando grãos entre as lajotas. ah, se os dias rápido passassem! se o sangue estancasse! se você parasse de me fazer tanto mal.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

ah, florzinha!


Fui lá na esquina
Encontei uma flor
A flor era amarela e ela dizia:
-eu sou a verdadeira cor do amor
Ah, florzinha, que mentira!
Meu amor não é assim apagado
Meu amor é forte e até cega!
Vermelho e roxo, bem apertado.

Mas a florzinha insistia
Da sua cor ela afirmava
Vermelho é o amor que te feria,
Amarelo é o amor que te faz graça.

Ah, florzinha, isso pode ser
Que aqui desassossega um coração alado
Tão doente e tão cansado
De andar por um deserto, vê?

Ah, meu coração amarelo
bate desesperado!

Mas não, não desista, coisa mais linda!
Dizia a florzinha, toda adocicada.
Abra a boca e mostre a língua
Engula minhas pétalas
Como se fossem água


Eu engoli a florzinha, mas que maldade!
Agora passo mal a vida toda
Fico por aí, vomitando poesia
E de amor, morrendo doida.

domingo, 27 de maio de 2007

winged.


[ para /winged (que não conheço, apenas admiro)]















Ela sentou na mesa, o vento soprava-lhe segredos indecifráveis e os cabelos curtos e louros dançavam na mesma melodia. Era madrugada, cedo do dia, e ninguém havia despertado dos sonhos embriagados ainda. Só ela. Ela e a escuridão do sol, escondido em suas madeixas.

Tentava desenhar, mas só saiam rabiscos desesperados. Bonecos despidos e pretos com grandes olhos assustados. Coração acelerava com o barulho do lápis rastejando no papel. Bocejo. Começou a escrever. Escrevia mudamente, acompanhada somente pelo barulho tímido do seu cérebro. Trabalhando. Contava histórias, derramava angústias. Passou uma página, duas. Parou. Foi até a janela e declamou em voz alta. Sua voz alta, que era quase um sussurro:

"Oh, tu que és dormente
Onde estás agora que em mim se esconde o sol?
O que pensavas fazer ao deixar-me inconsolada
Desolada nos pensamentos sós?
Ah, eu grito
Arranco cabelos de ouro
Soco o umbigo!
Venha à mim antes que a manhã chegue
Antes que os pássaros cantem
Antes que acordem os seres..."


Ninguém acordou. Ela ficou silenciosa, mais que nunca, esperando que alguém batesse na porta. Um, dois, cinco, dez minutos. Sentou. Abraçada com os próprios joelhos derramou toda a doçura acometida em seus olhos. Suas lágrimas adocicadas chamaram as formigas, os doendes, os elfos, as fadas. Todos, reunindo suas forças de frágeis criaturas, a carregaram para um mundo colorido. Onde a dor do desamor ainda batia, é certo, mas que os olhos e peito enchiam-se de cores e havia a esperança multicolorida de novos amores. Ela, despertou-se encantada e, mais uma vez, declamou:


"Ah, agora com asas refeitas
Com olhos encantados
Corpo revestido de magia
Sou nova
Aqui há cores
Aqui há nostalgia
Porque sem ti eu vivo
E não há perigo
De morrer em vida!"


aplausos. Dos elfos, das fadas, dos doendes e das formigas.

sábado, 26 de maio de 2007

segunda carta para nunca ser entregue

Bom, o começo é sempre a pior parte. Te escrevo sem saber por que. Acho que preciso dizer que sinto saudades. Sim, é bem isso.

Planejei várias coisas. Encontros avisados, surpresas, beijos roubados. Mas não te preocupa. Calo a boca e os desejos. Pra mim, resta o sexo verbal. Porque, sim, faço sexo [porque não é amor nem ódio] com as palavras. A maioria delas é tua. Mas os pensamentos não são mais. Hoje, as lembranças colorem e só dói a falta. Eu precisava te contar dos dias e das noites insones. Da vontade de te ligar que ainda bate, sempre que todo mundo foi dormir. Às vezes, até ligo, mas está desligado ou não espero chamar. Só de saber que está ligado já me "acalma". Acho tão estranho que o amor se torne raiva. Queria saber porque, meu deus, porque tem raiva de mim. Foi a carta? Os textos? O amor?

Ouço Caetano até dormir. Fui à um show dele outro dia. Bateu vontade doida de te ligar na hora. Mas a minha mãe estava do lado e eu não teria coragem. Não, não é medo dela, mas de você.

Ando lendo muito Caio. Tenho dois livros. "O essencial da década de 1970" e o de 90. Só falta o de 80, que é o que tu tens. Quando fui comprar o de 70, fiquei em dúvida entre este e o "teu". Optei pelo outro. Foi uma vitória.

Ah, todo mundo ama a "tua" tatuagem e eu me encho de orgulho ao dizer que foi por amor. Tá, eles me chamam de louca. Mas me sinto bem, sinto mesmo. Eu também não soube te amar. Exagerei (amos) na dose. Veio um caminhão e atropelou a paixão, como diz a música. Mas nunca se transformou em bom dia.

Onde você está? E agora, como continuar sem pensar e/ou temer? Não sei. Houve pessoas e palavras mas não dá. Ok, stop. Nada de nostalgia. Senão, não passa na censura.

Na verdade, você me faz mal. Um I can't live with or without you bem típico. Queria dizer : " Não me procure mais, a minha bateria esgotou. O mundo é azul e o meu céu também. Mais tarde eu esqueço e vá se foder se não me ama, acho coisa melhor. Te amo por agora, mais tarde, não sei." Mas não consigo. Como teus vermes e te sirvo café. Café e cigarro= um livro pronto. Lembra? Tenho fumado demais. Tu és o meu bastão de câncer. Cada tragada é mais de ti pra dentro de mim. Por isso solto depois.

Tudo anda manso. Aquele manso de pitbull adestrado, sabe? Escola, livros, caderno, computador, cama, tu, sonhos (às vezes). Não há mais a grande Dor. Só aquele vaziozinho e voz com gosto de nostalgia. Espero que estejas mesmo feliz (sim, hoje - eu disse 'hoje'- desejo isso]. E bem clichê: quando precisar sabe o número, o endereço, o e-mail. Pode até gritar daí que eu juro que escuto.


com todo o Amor,


Tayná

sexta-feira, 25 de maio de 2007

as pseudo-aline.

elas tentam. eu juro que elas tentam. tanto que chegam a dissolver meu coração a ponto de bebê-lo. mas não desce. não há como. tu, mulher de alma cigana, prendeu minha mente com tanta força que o resto só parece robôs multicoloridos. não há equilíbrio e nem densidade. há beleza e fúria, essa é a verdade. as palavras ligam-se umas às outras mas não formam o monstro lacrimoso que tive em meus braços. não. eu tento também, tento aceitar. mas a tua voz ainda ecoa nos meus pontos de prazer e sanidade.

devia ser proibido essas cópias baratas de mesma letra. mesmo ton, mesmo riso. mas ah, foda-se. eu só queria te dizer que não dá pra comparar. ô cigana maledeta.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

"plantei um pé de flor, deu capim"



_"Capim", Djavan_