domingo, 24 de junho de 2007

pra lá e pra cá.

- eu não sei,sabe.
- não sabe o que?
- isso.
- isso o que?
- ah, eu já disse que não sei.
- mas o que acontece?
- um comichão no coração.
- hã?
- desce amargo e perfura. e coça, mas não tem como coçar o coração, tem?
- não, acho que não.
- mas talvez nem seja o coração, sabe. talvez seja a alma.
- e tem como coçar a alma?
- não, não tem. acho até que é mais difícil.
- então eu invento.
- não, não faz isso.
- porque?
- porque eu preciso.
- então! por isso que vou inventar.
- não, você não entendeu.
- não entendi o que?
- eu preciso sofrer.
- credo. porque?
- porque eu firo.
- fere, é?
- firo, tanto quanto essa coceira na alma.
- não acho.
- você não precisa achar, eu tenho certeza.
- você tá sendo frio.
- eu avisei.

4 comentários:

Unknown disse...

lembrei-me de nossa conversa.

=*

Salve Jorge disse...

(E vai se chegando.. manso.. o menino que coça almas e devora corações, sarador que é daqueles que ferem..)

- Salve salve.. muitos belos dias aos dois.. ou devo dizer às duas já que essa história de concordância no masculino é um machismo linguístico.. (Ante ao silêncio ele continua, já se sentando e ampliando a estensão de sua compostura..)
Não pude me furtar de lhes ouvir o proseio e como seguia a passeio, resolvi por aqui me assentar.. (ele rodava os longos cabelos com as mãos como se fosse prendê-los, mas deixando-os soltos às costas, como um manto..) Tenho aqui uma proposta.. não que seja das irrecusáveis, mas é uma boa proposta.. gostaria de coçar a vossa alma e resolver-te a indolência da forma que mais gostas...
- Em troca? Oras, basta que me permita devorar-te o coração.. que tenho certeza deve ser assaz saboroso.. vistoso.. um órgão cheio de histórias para degustar..
- Se viverás sem coração? Oras.. sei não.. mas terás a coçeira sanada, a alma aliviada e poderá seguir tua jornada, sem o coração sôfrego de antemão..
- Não sei se será melhor, mas de certo será diferente... ah, isso será.. e haverá a vida pra levar, quem sabe nem lembrará desse coração, que guardarei na pança e do qual farei lenta digestão.. que nem jibóia comatosa que devorou um leão..
- Se me ferir o coração? Não, não fere não.. tenho couraça adensada pelas vicissitudes das chagas passadas, das noites enlutadas e da percepção das elipses sincrônicas da criação.. (Levando a mão ao bolso, ele tira de lá um pequeno esfumaçador de ambiente, baseado em devaneios condensados e com um piscar de chamas o ascende, enevoando as cercanias..) Aceitam?..
- Venha, abra o peito.. é por aí que vou entrar.. nesse recorte recôndido entre os seios e o umbigo, onde eu posso passar.. veja, bem, que alma linda, mesmo que com seus machucados.. é um errônea definição, essa de que a beleza vincula-se à homogeneidade ilesa, como se isso fosse perfeição.. perfeito é um termo ao qual não sou afeito, mas se o fosse, diria que o perfeito há de ser muito machucado, calejado, remendado pelo curso da apreciação.. teria o trilho marcado pelas lágrimas corridas e pelas chagas abertas ao longo de sua extensão.. seria uma alma bela como essa que coço com vigor, instigado de prazer.. é aqui que coça? (E deixando o beque nos lábios, ele usa as duas mãos mergulhando em cada partícula daquela representação energética da senhorita ali à mão..) Tens belas asas, sabia? Poderia eu gastar aqui uma vida ou apenas abraçar-te as costas e morrer sentido teu cheiro de verão, mesmo que tragas o inverno na pele.. poucas vezes tive a fortuna de ter tão fina matéria prima em minhas mãos.. és como mel entre meus dedos e serias ambrosia em meus lábios..
- Pronto, estás lapidada. Fiz minha massagem d'alma, com algumas cócegas para trazer-te satisfação.. podes por agora nessa bandeija de prata seu imperioso coração.. hei de ser cioso do valor que tens durante minha refeição..

Alexandra Mendes disse...

eu adoro o que escreves. adoro.

Anônimo disse...

coça coça coça... as vezes uma coceirinha gostosa, um leve sorriso os lábios... assim de canto. As vezes uma coceira que incomoda, que não deixa respirar... que não dá pra tirar dali mas a gente adoraria que saísse...

coça coça coça...