quinta-feira, 30 de agosto de 2007

sou, quero.


eu calço os sapatos
que pisam na vida
o grão de poeira
o cascão da ferida
não há mais sentido
na minha exatidão
quebrei os ossos
te seguindo com os olhos
mordendo a terra
que cobria o meu chão

suei a água
que te inundou a vista
os ventos lentos
as pessoas
as tripas
tudo espalhado
no peito do asfalto
sem dó
ou sossego
cabelos
peitos
no reflexo da carne podre
sou o que cresce
e, logo depois,
morre.

sou o aborto da saudade de ti.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

(sopro)


Eu tenho ensaiado os movimentos. Quero te achar. Por aqui, decorando a vida de saudades. Vontade de saber o que estás fazendo agora. O que pensas, olhas, sentes. E pra mais perto de ti chegar, eu como a areia que pisam teus pés. Não vês o meu sorriso esvair-se na tua fumaça pobre e azul? Ou, quem sabe, os meus beijos transfigurados em água, no teu banho quente? Aquele, a qual tantas vezes me convidaste. Sou a inveja de qualquer coisa que te toque. Até do membro rijo dele a penetrar-te o prazer. Mas eu não te amo mais. Não como antes - esse antes que tatuou-se na minha carne. Martírio eficaz. Viraste saudade agoniante e eu, desespero guloso e fraco. Não gosto mais do que escrevo, portanto, esqueço as minhas horas escrevendo-te cartas, bilhetes, gritos, suspiros. Por que é preciso uma musa pra escrever. Pego na caneta pra sentir pulsar uma vida eloqüente. És o silêncio que não se ouve. O vaso que se quebra, só para virar um mosaico. A loucura na mente de um médico. A sanidade num manicômio. Não suba as escadas, lá há idas sem voltas, amada. Amada ou sentida? Saudosa, quem sabe. Quem sabe? Há tempos que não sei nada. Lembras? Foste tu quem ensinou. Não cruzo a linha, nem chego a gozar no final. Teu lugar não era mesmo comigo. Nunca te mandarei embora. Tu, o meu tratamento de choque.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

elogio.


na tempestade de mim, és a lágrima mais salgada.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

(caos)


um pouco perdida
no que falta de mim
deixo por aí as lombrigas
que me marcam o fim
nas páginas rasgadas
e nos pesadelos matinais
sem caminho
rua
ou estrada
luzes nem sinais

perco-me no caminho
de te encontrar
sobrevôo os moinhos
vou lá, olhar
tudo corta
o vento é navalha
e só vê a vida passar

ai de nós,
que vivemos.

sábado, 18 de agosto de 2007

gay pride.


amanhã, amanhã, amanhããã!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

cor.


eu quero mais cor

no asfalto da minha rua

eu quero mais cor

nos teus olhos cansados

eu quero mais cor

na tua boca suja

eu quero mais cor

no teu vocabulário ultrapassado

eu quero mais cor

no teu passatempo

eu quero mais cor

no teu beijo, no teu ventre

eu quero mais cor

na manhã que é nossa

eu quero mais cor

na boca da noite calorosa

eu quero mais cor

no hálito do vento

eu quero mais cor

no teu pensamento

eu quero mais cor

na tua aquarela

eu quero mais cor

em todo o continente

eu quero mais cor

em toda, toda gente

eu quero mais cor

no céu e no mar

eu quero mais cor

nos verbos, no falar

eu quero mais cor

nas fórmulas e desenhos

eu quero mais cor

eu quero mais cor

por favor,

coloram o vento.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

love is watching someone die.


eu não sei porque estou escrevendo pra ti, aline. talvez eu esteja tão desamparada agora que eu me force a sofrer por ti, mais um pouco. eu não sei que maldição foi essa que jogaste em mim, ao partires, mas eu caí fundo nesse meio-de-caminho e não mais encontro paz nem sossego. caos. caótico. tudo assim, sabe? eu queria mesmo era que me confortasses, agora. mas não podes, e eu finjo entender.


(pausa)


não, não é mais pra ti, aline.

chega.


(silêncio)


[grito]


visto a palavra 'não' com vontade de rasgar o mundo. vomitar a perfeição dos meus sentimentos imperfeitos no teu vestido tão novo e cheiroso que me curvo ao breve e leve roçar de teus olhos falsos sobre mim. eu não quero liberdade da sofreguidão cansativa que é o entregar-se sem pedir nada em troca, mas querendo. não tem nada de errado. não há nada fora do lugar. mas a casa está de cabeça para baixo, não vê? cuidado, os móveis podem nos esmagar. contanto que meu corpo esteja sobre o teu. farei força para não tocar-te e sustentar todo o peso em minhas costas. quem? não sei. eu acho que já apanhei muito, hoje. aqui, esperando o que e onde. os grãos de poeira dançam no chão, onde imaginei cada pedaço de saudade que me agridem os olhos. e eu minto: é a sujeira que me faz chorar. descansar em caos. conto quantas páginas faltam, em branco. risco, risco, risco. não me deixem ver o sol, quero queimar na chama da escuridão. os poetas vão embora e a minha casa tem sabor de tempestade. mas ninguém se afoga, só eu. e o vinho que sai dos meus olhos tinge a água. por favor, saiam daí. no meu último suspiro, pediria desculpas por morrer.






me embriagar,

até que lembres de mim.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

descansar em caos.


fecha os olhos:
me vê
abre os lábios:
me respira
levanta da cama:
me acha
deita no chão:
me toca
por favor,
não vai
por favor,
eu quero
por favor,
não posso
sem você, não dá.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

desabafo.

eu não aguento. sério mesmo, não aguento. porque você faz isso? poxa, eu queria tanto te colocar numa caixinha e tudo aquilo mais que eu disse. e amanhã eu estou preparando uma surpresa tão bonita que se fosse pra mim, eu saia na rua atraz da pessoa que o fez e daria um abraço daqueles, sabe? mas acho que você não vai fazer nada disso mesmo. mas eu queria muito muito que você o fizesse. poxa, como eu queria. e queria também que você gostasse de mim o tanto enorme que eu gosto de você. ia ser bom. eu enchia teu copo metade cheio e tu enchias o meu, metade vazio. e eu juro que atravessava a rua de mãos dadas. quantas vezes você quisesse. e não adianta, não adianta dizerem pra eu ter cuidado. é isso que dá, sabe? dormir cheirando a mão, contar as horas, esperar resposta, dormir ouvindo frank sinatra. eu não quero nem pensar no resto, quero dormir. mas lá nos sonhos, é perigoso. e eu grito grito grito. faço uma festa de grito. ouve, por favor. mas não só ouve, grita de volta. eu, ai.

sábado, 11 de agosto de 2007

fome.


o sonho.

o melhor dos sonhos.

pintado com leves pinceladas de saudade e volúpia.

ai.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

would you love me when i'm not myself?


caia em mim, como a chuva no asfalto que me segura os pés descalços. pois não sei mais quem sou. se sou, sou tu. até que de mim saia o corte do novo mundo no teu ventre virgem. rodeie o meu território e faça-me ter certeza que as luzes correram para abraçar-te os olhos fechados:


quero inventar um veneno
morrer de mim
quero cuspir no vento
lamber o fim
quero me embebedar
pra lembrar de fugir
quero um lugar aí
beira-mar
esqueci.



não entendo. não entendo. não entendo.
e falta vontade de.
você floresceu comigo. você floresceu comigo.
ai, eu acho que estou murchando.
ou é pura metamorfose, quem sabe.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

à Evelin. [com todo respeito, nina]


Ela subia as escadas
Mas esquecia de contar
Um dia cansou de ser boneca
Rasgou o mundo
Regou as idéias
Soltou as rédeas
E se jogou no mar
Não morreu
Só se embriagou
De coisa salgada
De vida e de cor
Hoje, tão sensível
Que nem posso tocar
Ela me mexe fundo
Me desbrava mundos
Me faz um sorriso novo
Com um suspiro lento
Faz arco-íris
Pra ela, dança o vento
E eu, poeta desgraçada
Quebro vidros
Conto os degraus da escada
Pra quando ela quiser
Por aqui voltar
E subir
Subir

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

wishing.


eu só queria que as estrelas brilhassem em três cores de novo.

merda.

domingo, 5 de agosto de 2007

toi.


que meu orvalho derrame aos teus pés.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

how come you never said you're sorry?


eu espero na linha do trem
eu costuro a minha roupa com fio dental
eu me encosto na cadeira torta
e torta fico.
porque um pedido desses é difícil?
eu não entendo,
a cigana até me concedeu um pedido.
mas se ela viesse, hoje,
eu diria - em um tom bem sutil e calmamente desesperado-
que não.
um não com todas as letras
um não saltando da minha língua
pra brincar nas entranhas dela.
então me deixa,
que eu ganhei tanto
em deixar de te amar.
não mais olhe no espelho e me beije
olha pra ti
e beija a tua alma pobre
e vazia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

ai de mim.


Na sombria paisagem de uma Lua cheia,
entrego aos anjos o meu leito:
Deitem-se, mexam-se!
Aqui jáz um peito calado.
Há tempos que não sou meu.
Movam-se!
Arranquem de mim, o lúgubre deus
o sopro alado.

Longe, a donzela ouve.
De lá, treme.
Não tremas, donzela minha
Cá está o teu poeta
Cá estou e beijo-te...


As imagens gritam ao meu desespero de estar. Cai em meus braços os gemidos fracos da Lua. Espalhada como que se em fios finos de um tecido branco, cobrindo tudo, exalando sombras.São esses devaneios meus o teu modo de sujar minha cama de espinhos dolorosamente agradáveis? ah, a tua delicadeza! Suspiro o meu grito murmurante. ouves, donzela, ouves? Por amor aos meus versos mudos, não me deixes. Ai de mim, que estou presa entre os dentes alvos de uma flor carnívora. Sim, as minhas flores têm dentes, nunca reparaste? Ah, donzela embriagada de fraquezas e minúcias próprias de uma deusa, cantes alto! Aqui os anjos fazem festa. Festa ao horror de não te poder levar ao leito florido e rubro, pela mão. Ai de mim, que beijo teus pés floridos para ver nascer em meus lábios o teu nome. Nessa paisagem sombria, onde mergulho vagarosamente, sinto o teu arfar. Ah, eu sonhei! Sonhei, donzela, sonhei com o teu hálito misturado ao meu, em trêmulas juras. No lago, onde o branco dos cisnes não mais maltrata a minha vista, vejo o teu semblante a bailar, ao lado da Lua. Hoje, cheia e uivante, a Lua transmite imagens confusas aos meus olhos embriagados no licor da saudade perfurante. Ah, ante a visão de um poeta ofuscado, és a rainha. Ai de mim, que aqui estou. Quando meu desejo é saciar a volúpia de meu peito. Vamos, matem-me logo se não podem trazê-la à mim. Ela, mais bela que a Poesia e a Natureza. À quem entrego o saber da minha existência. Sou o gemido que treme em tuas fitas. Teu perfume, donzela, é para enlouquecer-me. Ai.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

wish.

would you, please, touch my hand with your tiny star fingers once again?