quinta-feira, 9 de agosto de 2007

would you love me when i'm not myself?


caia em mim, como a chuva no asfalto que me segura os pés descalços. pois não sei mais quem sou. se sou, sou tu. até que de mim saia o corte do novo mundo no teu ventre virgem. rodeie o meu território e faça-me ter certeza que as luzes correram para abraçar-te os olhos fechados:


quero inventar um veneno
morrer de mim
quero cuspir no vento
lamber o fim
quero me embebedar
pra lembrar de fugir
quero um lugar aí
beira-mar
esqueci.



não entendo. não entendo. não entendo.
e falta vontade de.
você floresceu comigo. você floresceu comigo.
ai, eu acho que estou murchando.
ou é pura metamorfose, quem sabe.

3 comentários:

Salve Jorge disse...

(Ele sente a água fria da praia, enquanto Persefone habitava o Hades.. ele via o vento mudar a geografia do mar, fazia que não queria ligar, embora as gaivotas atraíssem seus olhares todo o tempo..
A garrafa nos dedos pendia quase alheia a tudo aquilo.. quase caindo.. escorregando indecisa..
As gaivotas gralhavam o gralhar de corvos negros e vorazes..
E o vento lambia, como a tudo lambia todo o tempo, todo dia..
Ele pensava.. rememorava.. regujitava e por fim, bebia..
Sentado, por fim, na areia esperou a morte chegar como num cotidiano consagrado a algum Deus mesopotâmico, que o sol seguia..)
- Inferno..
(A areia se acomodava à sua forma, sentindo o peso de sua gravidade e de sua alteridade mutante a cada instante..)
- E eu só tenho dois pés..
(Mas eram mil os pensamentos expressos em desenhos na areia, que tanto as ondas quanto o vento, transformavam em cicatrizes no solo..
O horizonte tornava-se sinuoso e a vacância das nuvens transformava o firmamento em saguão de repartição pública ou de banco em dia de pagamento.. mas faltavam os insetos para chupar seu sangue e deixar a coçeira nas feridas..)
- Ostento meu prazer para ofender sua pintura.. (aquilo ele gritou alto, mas era uma bravata interna que nem mesmo seus piolhos entenderam..
Resignado baixou os olhos para as mensagens cifradas que constituíra, pensando em devorá-las aos borbotões, fazendo babador da camisa listrada que lhe cobria o umbigo refinado..)
- Que Ícaro me resgate se a cera não derreter-se antes com todo esse mormaço..
(Mas o que lhe atingiu foi a água fria do mar, que ia e vinha, enquanto a maré enchia, faznedo-a vir mais que ir, em um cíclico movimento linear..)
- Droga, agora só me resta me afogar.. (e ficou ali, completamente esquecido..)

Patrícia Lino disse...

Sempre. Vida, morte. Com a eternidade ao meu lado. Vida, morte. Sempre.

Alexandra Mendes disse...

escreves tão bem. Fogo.