quarta-feira, 25 de julho de 2007

cadê você?

cadê você?
a salada tá na mesa.
cadê você?
eu coloquei cobertores novos.
cadê você?
eu tenho um chapéu pra tapar o sol.
cadê você?
eu liguei o ar condicionado.
cadê você?
o violão tá calado.
cadê você?
eu quero cafuné.
cadê você?
eu fiz até café.
cadê você?
eu quero dizer que amo.
cadê você?
eu tenho um novo boneco de pano.
cadê você?
eu tô cantando sozinha.
cadê você?
não tem ninguém no quarto, na sala, na cozinha
cadê você?
eu tenho espaço na parede.
cadê você?
eu quero um abraço.
cadê você?
eu machuquei o pé.
cadê você?
eu quero chorar na praia.
cadê você?
eu quero subir dunas.
cadê você?
eu quero pegar chuva.
cadê você?
eu tenho um segredo.
cadê você?
eu sinto frio.
cadê você?
eu não tenho paz.
cadê você?
quando eu sou só a nostalgia
de não te achar mais.

85


eu desenhei no céu,
o teu nome
eu joguei no ar,
o teu sorriso
eu fiz voar,
o teu beijo
eu vi subir,
o teu amor
tanto que caiu tudo
em mim
de uma vez só.

domingo, 8 de julho de 2007

of course i do.


eu quero um grito absurdo, rompendo as minhas cordas vocais. um grito que me faça acordar a vizinhança e até, quem sabe, acordar a cigana pra fazê-la rezar, em toda sua veia ateísta. quero, com esse grito, fazer com que tu, que estás no hospital, te levantes e vás andando tão frágil e estrondosamente pura, entre as tosses e febres alheias. quero, também, que os anjos me ouçam e venham reclamar, dizendo que no céu não há barulho, só para que eu diga: "meu bem, comigo vocês estão no inferno". O meu grito será tão estridente, que quebrará os vidros, destruindo a redoma onde guardo as memórias que encravam a alma. As pessoas, de tão ensurdecidas, se colocarão a girar pelas ruas, fazendo com que os carros cantem para desviarem-se delas. acontecerão diversas mortes, é verdade. mas é esse o risco que se paga por não se nascer surdo.


na medida que meu grito for crescendo, nascerá em mim um desespero e eu tentarei cortar a garganta, para que o barulho cesse. não conseguirei e vocês todos, se arrependerão de me terem acordado.



agora.

recado ao peito aflito e às agulhas.

melhora logo, por favor.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

o espelho.

tem uma garota vomitando do meu lado. ela vomita os sonhos, os devaneios. saem todos verdes, nojentos. acho que é tudo que sobra dela. e ela está a expulsá-los de si. ela, entre soluços, diz: 'livre...' e segura um espelho:


não aguento mais os dias e a espera tortura. como um jogo. as bússolas invertidas e ampuletas aceleradas. os demônios gritam alto e entram no palácio celestial do desespero. começa o jogo. cospem na minha cara, me chamam de louca. meus remédios, eles guardam no teto, que não sei escalar. falam que eu siga as setas, mas estou vendada. flechas de fogo passam por todo lado, posso sentir o calor. trêmula em cada pé, penso para afastar-me delas. no ar, dança uma música de estremo pavor, como a nona sinfonia de beethoven, ou qualquer coisa do tipo, não consigo destingüir. eu, completamente apavorada, com frio que vem da espinha, apesar do calor da sala, tento dançar. danço para afastar os demônios, eles não gostam de festa. sim,o contrário do que dizem sobre eles.


os demônios são sempre o contrário do que achamos, meu amor.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

olha!

olha pra cima!
-cai uma estrela-
olha pro lado!
-cai uma folha-
olha pra frente!
-cai uma fruta-
olha pra trás!
-cai a lua-
olha pra dentro!
-já caiu tudo.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

bilhete à outra de mim.


eu não sei quem sou. bato no relógio e reclamo com a vida. sai daqui e se joga no chão, por favor. diz que não acaba hoje. que eu fiquei tempo demais debaixo do chuveiro. não é fácil, tu sabes que não é fácil. acho que tem de ser assim mesmo, senão não é de verdade, entende? abro os olhos pro mundo podre que me queima os cílios. sou pedaço descartável, não me use demais. as tuas palavras de silêncio transparente e denso adentram minha carne e formigam. não ouses dizer que não esperavas isso. me poupe da tua frieza forjada. meto-te no meu fogão até que saias completamente menor. como teus cabelos e lambo teus olhos brancos. da próxima vez, avisa-me que vais ficar. vai embora! corre por minhas veias, suja meus pensamentos. eu odeio você, sabia? eu não te conheço. eu só queria que você sumisse. tayná, te fode, porra. não come mais as minhas entranhas, tu, que não sei o nome. os remédios não são o bastante contra você, não é? ah, energúmena, eu ainda te mato.


eu ainda te mato.




eu ainda te mato.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

nunca será um conjunto de dias.

Eu olho pra fora e vejo o dentro. aqui só há remendos. há o teu coração e o meu pulmão. os teus rins e o meu cérebro. respiro a dor do tempo e nem percebo que horas são. será que os ponteiros não reparam que eu quero que eles parem? que a minha bateria acabe? até que batam em mim, dizendo : "volta a funcionar, porcaria!"... é que hoje eu me sinto tão oca quanto essa bola de sabão... estou prestes a estourar, juro. recolho das minhas unhas o gosto que tinha a tua poesia e me embriago. sou verme, sou pó, sou o teu sapato.
Vou olhando lentamente, esses velhos retratos que me penteiam as paredes e na ânsia de os perceber, vou cosendo à ponta do polegar esse, este vazio que me corrompe as artérias, como esses malditos ponteiros, que não me escutam os pedidos, essas vozes que se cruzam na infinidade da minha garganta (já a engoli). E a pele que me varre o chão, vai sorrindo para a imensidão dos teus cabelos que rastejam pela dureza da cadeira.
Enquanto levo os teus lábios, esses teus lábios de jasmim, a passearem pelas minhas mãos. E me perco nesse lado de dentro, que não é lado nenhum. Porque hoje, não há lado de dentro. Tudo me parece o mesmo, o silêncio jaz na tua garganta (também, não a engoliste!)
e ao me perder, te encontro. a luz que se faz aqui, reverbera o teu silêncio. fico presa, observando. será que o mundo todo vê? eu queria era que todos dormissem. não cortem meus sonhos, por favor. porque descobri ter uma língua própria, onde há um só verbo e uma só pessoa. não, não me cubram de regalias, quero só o desmantelo da tarde. de volta. estou aqui, de volta à realidade esfumaçada dos sonhos. bebendo a escuma do mar. salgando meu sangue, pois que não mais quero ter sede dele. matar a fome de vampiro em outra veia, que não a minha.
Mas eles não dormem. E saber dessa minha língua,onde só uma cor me preenche os tímpanos, é querer dizer-lhes, a esses que não vestem o sono, como eu me tatuei na dor, que todo o conjunto de dias, é para mim, nestes meus olhos cegos, o teu rosto descomposto, esvoaçando por entre as vitrinas da minha casa. E eu nem queria ir para casa. Mas já há vida lá fora - o teu rosto (des)composto nunca foi um conjunto de dias.E hoje, não nasce em mim, essa saudade de viver - rebentar-me-ia com o peito.
Sim, há vida lá fora. mas e quando o dentro comer o fora, o que faremos nós? talvez andemos descalças por aí, desejando pisar em cacos, sentir o vermelho manchar a pele de novo. porque a morte vem e nem sente a vida gritando. não sente que esse mundo é um desespero e eu, louca e perdida, sinto o teu cheiro em cada canto, o teu gosto nas minhas feridas expostas. não me diga que o mundo acaba hoje, senão começarei a dançar até que me tenham de amputar os pés, já que o coração, já me foi tirado. olho pra cima, lá há o teu rosto, preto e branco. brancura que como com dedos sujos de poesia. não vês que em mim há mais dúvidas que certezas? e a minha dívida é com a vida. nefelibata desenfreada, perdida.
A morte virá e encharcar-nos-á esses pés, que se contentarão com os cacos - serão pedaços de nada, saltando por entre as ruas, em breves palpitações, para com o tudo. E esse odor que se infiltrará pela nossa casa (porque há vida lá fora) sujar-nos-á os retratos que nos penteiam as paredes e a brancura que nos cobrirá os dedos, afundar-se-á no polegar, onde outrora havia sido cosido esse vazio,amor. E com o pescoço deruçado sobre as mãos, por onde os teus lábios de jasmim ainda passeiam, aperceber-me-ei de que esse teu olhar não existirá apenas, quando eu erguer a cabeça, apoiando-a nos ombros. O teu perfume ecoará nos meus ouvidos, como a pronúncia habitual da minha dor (eu tatuei-me nela) e eu serei só mais uma canção antiga, uma melodia deficientemente composta - como uma cicatriz nesse teu pequeno canto esquerdo do rosto - o teu nunca será um conjunto de dias.





texto composto por Patrícia Lino e eu.
porque ela me inspira.sempre.

domingo, 1 de julho de 2007

AVISO:

aluga-se uma alma.






tratar com : tayná, a feiticeira.

scheisee.


um dois três quatro
começo por aqui
esqueço os dias
abro os braços
lembro de mim

não grito
só digo
não deixarei
ne me quitte pas

e na rua de rosas
ou coisa qualquer colorida
não sou mais mulher
sou só ferida

não, não digas isto
por favor.