sexta-feira, 6 de julho de 2007

o espelho.

tem uma garota vomitando do meu lado. ela vomita os sonhos, os devaneios. saem todos verdes, nojentos. acho que é tudo que sobra dela. e ela está a expulsá-los de si. ela, entre soluços, diz: 'livre...' e segura um espelho:


não aguento mais os dias e a espera tortura. como um jogo. as bússolas invertidas e ampuletas aceleradas. os demônios gritam alto e entram no palácio celestial do desespero. começa o jogo. cospem na minha cara, me chamam de louca. meus remédios, eles guardam no teto, que não sei escalar. falam que eu siga as setas, mas estou vendada. flechas de fogo passam por todo lado, posso sentir o calor. trêmula em cada pé, penso para afastar-me delas. no ar, dança uma música de estremo pavor, como a nona sinfonia de beethoven, ou qualquer coisa do tipo, não consigo destingüir. eu, completamente apavorada, com frio que vem da espinha, apesar do calor da sala, tento dançar. danço para afastar os demônios, eles não gostam de festa. sim,o contrário do que dizem sobre eles.


os demônios são sempre o contrário do que achamos, meu amor.

3 comentários:

poeta quebrado disse...

não precisa de setas, amor meu. dá a mão aqui, como tantas vezes te pedi. eu me jogo diante de ti. protejo de todas as flechas, todos os monstros, tudo. e tudo que não se diz, e tudo que não se diz. tiro a venda e colo meus olhos nos teus.
teu sorriso, o meu. minhas lágrimas tuas, tuas lágrimas que tento abobalhadamente enxugar. te sopro com toda a força por horas pra livrar do calor. seguro tuas pernas, ou só deito aí contigo. no chão mesmo. vermelho e verde. ainda tenho o meu colo?

eu danço contigo.
dança de desespero, dança de amor.
eu não sei mais.
vou tirar os cacos pra não te machucar.
eu gosto de festa, e quero te fazer a minha. invento as melhores e mais coloridas bebidas. que tal deitar no meu colo e beber? eu cuido.







e, ah... se for verdade sobre meus demônios, não encontro um equivalente ao suicídio pra demonstrar minha alegria.

Patrícia Lino disse...

'amor
loucura
vida
morte'

Salve Jorge disse...

Espelha-se a imagem
Da margem
Das sintaxes
Alheias à vertigem
De seu compasso

Traço
Perfaz o arco
Solta o parco
Alarido de desilusão
Dobra o joelho
Toca o chão

Daí tenta dançar
Ganhar o ar
Bater as asas
Esquecer dos cordões
Que prendem seus tendões
Aos arpões
Cotidianos
Urbanos
Ordenadores de sua concepção

Feche os olhos
Vá sonhar
Tome banho
Escove os dentes
E se deite
Pois seu deleite
Está no mar
Cujas ondas arrebentam
Sem cessar
Em algum lugar
Distante
Discrepante
Insular...