quarta-feira, 30 de maio de 2007

particularidades de um amor desgraçado.

"Bem vejo que te amo como uma louca: contudo não me queixo de todos os ímpetos violentos do meu coração; habituo-me às suas perseguições; e mal poderia viver sem um particular prazer que descubro e desfruto, amando-te entre mil dores e pesares..."

_"Segunda Carta", S.M. Alcoforado_



sento-me perto da janela. a janela vem até o chão, me acompanhando. a vista lá fora é completamente diferente dessa aqui de dentro. lá fora faz frio e as pessoas andam sem se olhar. esbarrando nos próprios erros e culpando os outros. eu esbarro nas próprias lágrimas-pétalas e te culpo. sopro suavemente o vidro quebradiço. embaça. uma meia circuferência. quase lua. e um rosto refletindo uma alma destruída. se eu olhar além da vista, posso me ver, é verdade. ali, como segundo fundo. ou primeiro, tanto faz. lá, escondidinha, eu sussurro canções que nos fizeram dançar.cantar.gritar.chorar. eu colho as flores do meu passado e ponho-as num supedâneo. onde, pousam os teus pés descalços.

um presente meia-boca, há de se dizer. aqui morrem as esperanças de um caminhar descansado. porque ficam loucas as horas do meu dia. invertindo-se. sonos intercalados. faço massagem nas próprias costas. dói tudo. talvez eu precise de mãos que me cubram a face envergonhada e braços que acolham o sorriso avariado. embriago-me e vejo o mundo girar. é tão bonito assim, mais colorido. as pessoas olham assustadas e eu caio na gargalhada. desespero de não te ter. aqui, faz calor. eu suo, suo, suo. tu cais sobre a minha pele. garoa. eu fico lambendo-me feito gato, tentando engolir cada mínimo de ti, em mim. tudo tão cansado que os olhos ficam baixos. as saudades deixam-me irrequieta. procurando grãos entre as lajotas. ah, se os dias rápido passassem! se o sangue estancasse! se você parasse de me fazer tanto mal.

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