domingo, 27 de maio de 2007

winged.


[ para /winged (que não conheço, apenas admiro)]















Ela sentou na mesa, o vento soprava-lhe segredos indecifráveis e os cabelos curtos e louros dançavam na mesma melodia. Era madrugada, cedo do dia, e ninguém havia despertado dos sonhos embriagados ainda. Só ela. Ela e a escuridão do sol, escondido em suas madeixas.

Tentava desenhar, mas só saiam rabiscos desesperados. Bonecos despidos e pretos com grandes olhos assustados. Coração acelerava com o barulho do lápis rastejando no papel. Bocejo. Começou a escrever. Escrevia mudamente, acompanhada somente pelo barulho tímido do seu cérebro. Trabalhando. Contava histórias, derramava angústias. Passou uma página, duas. Parou. Foi até a janela e declamou em voz alta. Sua voz alta, que era quase um sussurro:

"Oh, tu que és dormente
Onde estás agora que em mim se esconde o sol?
O que pensavas fazer ao deixar-me inconsolada
Desolada nos pensamentos sós?
Ah, eu grito
Arranco cabelos de ouro
Soco o umbigo!
Venha à mim antes que a manhã chegue
Antes que os pássaros cantem
Antes que acordem os seres..."


Ninguém acordou. Ela ficou silenciosa, mais que nunca, esperando que alguém batesse na porta. Um, dois, cinco, dez minutos. Sentou. Abraçada com os próprios joelhos derramou toda a doçura acometida em seus olhos. Suas lágrimas adocicadas chamaram as formigas, os doendes, os elfos, as fadas. Todos, reunindo suas forças de frágeis criaturas, a carregaram para um mundo colorido. Onde a dor do desamor ainda batia, é certo, mas que os olhos e peito enchiam-se de cores e havia a esperança multicolorida de novos amores. Ela, despertou-se encantada e, mais uma vez, declamou:


"Ah, agora com asas refeitas
Com olhos encantados
Corpo revestido de magia
Sou nova
Aqui há cores
Aqui há nostalgia
Porque sem ti eu vivo
E não há perigo
De morrer em vida!"


aplausos. Dos elfos, das fadas, dos doendes e das formigas.

3 comentários:

poeta quebrado disse...

eu me mordo.
eu me mordo.
eu me mordo.

Marcos Angeli disse...

um reino encantado pra cada solidão
íntima no vazio universal
sussurre teus vãos
meus silêncios deslocam o ar
uma asa no teu pé
outra no teu pensamento

Salve Jorge disse...

Às vezes me atingem o eco de suas palavras
LAvram o caminho aéreo de nossas pegadas
Levadas numa brisa mansa propensa à temperança
Ciosa do ardor da dança que como uma trança
Envolve-nos os ventres

Aqui nesse alpendre
NEsse nosso terreiro de amarração
Donde encaminhamos as idéias
E apresentamos a anunciação
Eu vejo suas lágrimas e sorvo cada gota salgada
Acompanhando essa sua vivência fadada
A ser poesia marcada
Numa carne de sofreguidão

E permaneço paralisado
Depois de muito ter falado
Cioso de seus ciclos
Esperando que se encaminhe
Até o ponto de nosso convívio
Donde permaneço sentado
Com o olhar temperado
E o abraço preparado
PAra o consolo devido

Já tenho cá comigo meus melhores verbos
E os mais precisos adjetivos
TAmbém meia-dúzia de advérbios
Além de uns enebriantes substantivos
E irrompendo entre o choro, um sorriso
Tenho-te aqui comigo
Podendo já ter padecido
Embora cante seu encanto que havia dado-se por vencido

A grama está fria nas nossas costas
A névoa é de uma brancura de neve
O mundo paralisado nos espera
Enquanto esse poeta aqui se esmera
E que finde essa esfera
Se não brilhares, minha bela
Encontrarei tudo o que gostas
E depositarei no âmago do teu umbigo
E assim deitado contigo
Refaremos toda a realidade
E nela Alines e afins
Serão pura vaidade...