Na sombria paisagem de uma Lua cheia,
entrego aos anjos o meu leito:
Deitem-se, mexam-se!
Aqui jáz um peito calado.
Há tempos que não sou meu.
Movam-se!
Arranquem de mim, o lúgubre deus
o sopro alado.
Longe, a donzela ouve.
De lá, treme.
Não tremas, donzela minha
Cá está o teu poeta
Cá estou e beijo-te...
As imagens gritam ao meu desespero de estar. Cai em meus braços os gemidos fracos da Lua. Espalhada como que se em fios finos de um tecido branco, cobrindo tudo, exalando sombras.São esses devaneios meus o teu modo de sujar minha cama de espinhos dolorosamente agradáveis? ah, a tua delicadeza! Suspiro o meu grito murmurante. ouves, donzela, ouves? Por amor aos meus versos mudos, não me deixes. Ai de mim, que estou presa entre os dentes alvos de uma flor carnívora. Sim, as minhas flores têm dentes, nunca reparaste? Ah, donzela embriagada de fraquezas e minúcias próprias de uma deusa, cantes alto! Aqui os anjos fazem festa. Festa ao horror de não te poder levar ao leito florido e rubro, pela mão. Ai de mim, que beijo teus pés floridos para ver nascer em meus lábios o teu nome. Nessa paisagem sombria, onde mergulho vagarosamente, sinto o teu arfar. Ah, eu sonhei! Sonhei, donzela, sonhei com o teu hálito misturado ao meu, em trêmulas juras. No lago, onde o branco dos cisnes não mais maltrata a minha vista, vejo o teu semblante a bailar, ao lado da Lua. Hoje, cheia e uivante, a Lua transmite imagens confusas aos meus olhos embriagados no licor da saudade perfurante. Ah, ante a visão de um poeta ofuscado, és a rainha. Ai de mim, que aqui estou. Quando meu desejo é saciar a volúpia de meu peito. Vamos, matem-me logo se não podem trazê-la à mim. Ela, mais bela que a Poesia e a Natureza. À quem entrego o saber da minha existência. Sou o gemido que treme em tuas fitas. Teu perfume, donzela, é para enlouquecer-me. Ai.